São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 1997
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Raimundos, poeira, fumaça e rock

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Subterrâneos do Rio. No meio de um túnel escavado na rocha, por onde passará o metrô que vai ligar os bairros de Botafogo e Copacabana (zona sul), há muita poeira, muita fumaça e muito som.
A poeira e a fumaça vêm das obras. O som -um ritmo cadenciado, com uma guitarra batendo insistente como uma serra elétrica- vem do novo trabalho dos Raimundos, "Lapadas do Povo".
O lugar enlameado e escuro foi o cenário escolhido pelo grupo para gravar o videoclipe de "Andar na Pedra", carro-chefe do CD, que deve chegar às lojas nesta semana.
"O disco é o mais pesado que já fizemos, o que tem mais a cara do grupo", conta o guitarrista Digão. "É a pauleira que a gente sempre esteve a fim de fazer, porrada do início ao fim."
"Lapada quer dizer bofetada, e o disco é assim. A sonoridade é a melhor que já fizemos. Conseguimos uma qualidade de som muito legal", diz o vocalista Rodolfo.
Estúdios em L.A.
A sonoridade elogiada pela banda foi conseguida depois de dois meses de gravações em três estúdios de Los Angeles (na Califórnia). Em um deles, o Sound Castle, foi gravada a participação da bateria. "A sala era grande, gigantesca, ajudava a abrir o som", conta Fred, o baterista.
No Sound City, numa sala menor, a banda gravou guitarra, baixo e vocais. Depois, no Pacific, foram feitas as mixagens e anexados alguns vocais.
O CD foi produzido por Mark Dearnley, o mesmo de "Lavô Tá Novo" e que tem em seu currículo trabalhos com os pesados AC/DC e Black Sabbath.
Atrasos ajudaram
A decisão de gravar fora do Brasil foi tomada por um motivo prosaico: atrapalhados com a turnê de "Lavô Tá Novo", a banda se esqueceu de reservar horários em estúdios nacionais.
"Na hora em que paramos para pensar no novo disco, não havia mais como gravar aqui. Aí a gravadora fez um levantamento de preços e descobriu que dava para gravar fora", conta Fred.
Resolvido o problema de estúdio, a banda ainda teve dificuldades para finalizar o repertório dentro dos prazos estipulados para o lançamento do álbum.
"Quando saímos, só tínhamos nove das músicas prontas. Letras, só tínhamos para duas. Mas acabou dando tudo certo", diz Fred.
Para aprontar tudo, o grupo se trancou no estúdio. "Acho que, por causa do compromisso com as datas, o trabalho acabou ficando legal. Longe de casa, a gente se desligou de tudo e conseguiu destilar bem o trabalho", conta Canisso.
Uma das faixas, "Bass Hell", era para ser um rap com letra, mas acabou se transformando na única música instrumental do álbum. "A fita estava rolando no estúdio, mas já havia acabado o nosso tempo e não deu para fazer a letra. Fica para o próximo", explica Rodolfo.
Para Fred, "Lapadas do Povo" tem safadeza, tem baião, "mas não significa que a gente vá fazer sempre isso".
O CD traz "Pequena Raimunda", uma versão de "Ramona", dos Ramones, "Baile Funky", uma tijolada de frases duras, como "ladrão que rouba mesmo é bem vestido" e "é na igreja que o povo esvazia as bolsas".
Segundo Fred, "o disco é o mais hard de nossa carreira. Nossa música não é muito fácil, não é a geléia fácil de mastigar. É a costela de ripa, que é mais difícil de comer, mas também é a mais gostosa".
Os Raimundos ainda não sabem quando começarão a turnê de lançamento. A banda já está ensaiando, mas as viagens só devem acontecer a partir de março.
A intenção é abrir a turnê com um grande show em São Paulo -de preferência, em uma praça ou outro local ao ar livre. "Aí vamos arrebentar", diz Digão.

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