São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 1997 |
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Diretor acompanhou vanguarda de NY
NELSON DE SÁ
Seu projeto de pós-graduação, orientado por Jacó Guinsburg, deve tratar da experiência. A seguir, ele adianta impressões. (NS) * Folha - Você acompanhou inúmeras montagens? Como foi? Antônio Araújo - O programa tinha um interesse mais suportado, não é suportado, como é? I mean... Um interesse maior no meu acompanhamento dos diretores do que no desenvolvimento de um estudo. Quer dizer, levam o artista de outro país para entrar em contato com os americanos. Folha - O primeiro foi Serban? Araújo - Não, foi a Joanne Akalaitis. Eu caí lá e foi um choque. Os ensaios são muito diferentes. O tempo é menor, poucas semanas. E o sindicato de atores tem um poder imenso sobre a sala de ensaio. A cada hora e meia você tem de parar. Chegou a hora do intervalo, pára onde estiver (risos). Folha - Mesmo no caso de uma diretora experimental? Araújo - Todos. Num ensaio corrido do "Henrique 6º", da Karen Coonrod, faltava uma cena para acabar o corrido e o "stage manager" levanta e interrompe (risos). Eu fiquei indignado. Folha - Você ainda acompanhou Serban, Foreman, Wilson... Araújo - Tem mais gente aí. O Richard Schechner, o Joseph Chaikin, que foi uma experiência maravilhosa. Anne Bogart, Garland Wright, a Mary Zimmerman, com o "Henrique 8º", que fechou o ciclo Shakespeare, que o Joseph Papp criou no Central Park. Folha - Eles são a vanguarda teatral americana. Você chegou a criar uma opinião geral sobre ela? Araújo - Foi desapontador. Eu fui com a imagem que a gente faz de Nova York, esse lugar em que todas as coisas estão acontecendo. Isso foi muito frustrado. Vi pouquíssimas coisas de que gostei. Folha - No começo do ano, você falou que tinha visto alguma coisa na Broadway e gostado. Araújo - No gênero musical, americano por excelência, eu gostei muito de "Chicago" e "Bring in 'da Noise", que tem a encenação do George Wolfe, um grande diretor. E "Chicago" eu vi no meio do julgamento do O.J. Simpson. É um musical extremamente cínico, crítico da justiça americana. Folha - Você teve certo contato com o George Wolfe. O que ele leva de qualidade para a Broadway? Araújo - É um diretor supertalentoso. É um teatro comercial, mas é inteligente, prende. Folha - Voltando aos experimentais, o que unifica os trabalhos? Araújo - São bem diferentes, mas você pode estabelecer relações. O Chaikin e o Serban são grandes diretores de ator. Eu acompanhei duas montagens do Chaikin com textos do Sam Shepard e foi bárbaro, pela relação do Shepard com o Chaikin todo o tempo, nos ensaios. O texto é o ponto de partida, mas construído nos atores. Com Akalaitis e Foreman você até tem um texto como ponto de partida, só que desde o primeiro ensaio não há trabalho de mesa, estudo de texto nenhum. E eles desenham a cena, sobretudo Foreman, absolutamente sem a contribuição do ator. Folha - Talvez porque ele é também o dramaturgo. Araújo - O Foreman é tudo. Aí você pode estabelecer alguma relação, no caso, com o Bob Wilson. O Foreman faz tudo, compõe a trilha, desenha o cenário, a luz, escreve o texto, dirige. Nesse sentido, ele é único. O Bob Wilson tem colaboradores, como a Susan Sontag, o Philip Glass, que apareciam nos ensaios. Mas ele também não parte do texto. Parte do movimento. Você tem a marcação, o desenho de cena, e o texto se acopla a essa marcação feita por ele. Folha - Como foi ser ator dele? Araújo - (risos) Ele reclama muito. Ele precisava de um ator e pediu para eu entrar. É uma construção, no espaço e no tempo, rigorosa. Você olha a 35 graus durante dez segundos, aí se levanta e dá três passos, aí vira o ombro. E os ensaios eram comandados, ou por microfone, "anda para lá, vira", ou então ele ia ao palco e você tinha de repetir os movimentos que ele fazia. Era um terror isso (risos). Eu passava mal. Folha - Vocês discutiram? Araújo - Não. Ele reclamava que eu não fazia com precisão (ri). Mas discutir, no ensaio, não. Folha - E fora do ensaio? Araújo - Ele é obcecado. A gente estava neste centro que ele está construindo, Water Mill, e tinha essa idéia de comunidade. Todos acordam juntos, almoçam juntos. E ele tem uma obsessão estética. Como é meio a casa dele, você tem a coleção de cadeiras dele, a coleção de potes. O tempo inteiro é a obsessão de como os potes estão arrumados. A gente ia almoçar, todo mundo morrendo de fome, e ele não estava satisfeito com a disposição dos pratos (risos). Folha - E o caso da geladeira? Araújo - Dentro das atividades que a gente dividia, naquele espírito comunitário dos anos 60, um dia me coube limpar a geladeira. Então estou eu lá, dentro da geladeira, e o Bob Wilson chega por trás e tem uma crise, "quem colocou esse papel amarelo na porta da geladeira?!" (risos). Eu saio de dentro da geladeira, vejo o papel, "foi o cozinheiro". Ele arrancou o papel, "Essas pessoas, são umas porcas, nunca se prega um papel desses na frente da geladeira" (risos). É a obsessão estética. Texto Anterior: O apocalipse segundo Araújo Próximo Texto: Coluna Joyce Passcowitch Índice |
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