São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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Deficiente planta em Santo André

FÁBIO EDUARDO MURAKAWA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A agricultura está sendo utilizada como instrumento de integração e reintegração de deficientes mentais ao mercado de trabalho.
A iniciativa é da Avape (Associação para Valorização e Promoção de Excepcionais), e o projeto é desenvolvido em Santo André (20 km ao sul de São Paulo).
A Avape é uma instituição criada há 15 anos por funcionários da Volkswagen do Brasil, que tinham filhos ou parentes portadores de deficiência. Hoje, a entidade congrega 12 mil associados.
O projeto em Santo André dá aos excepcionais treinamento profissional no ramo da agricultura orgânica urbana.
Segundo a psicóloga Izabel Zaina Ribeiro, 40, gerente de Formação Humana da Avape, em um ano, oito deficientes conseguiram trabalho em empresas na região do ABC, na Grande São Paulo.
Em um terreno de 4 mil m2, eles aprendem técnicas de semeadura, preparação de terreiros para plantio, irrigação, colheita e comercialização de verduras e hortaliças.
Atualmente, 13 excepcionais produzem ali 10 mil pés de alface/mês e mais 2 mil pés/mês de outras verduras e hortaliças, como rúcula, couve, salsa, cebolinha, almeirão e cenoura.
O projeto piloto, diz a psicóloga, teve investimentos de R$ 50 mil e gera gastos mensais de R$ 10 mil.
O valor fica muito acima da receita obtida com as vendas do que é produzido: R$ 2 mil/mês. "Conseguimos sobreviver graças a doações e a outros projetos da Avape, que são mais rentáveis."
Boa qualidade
A intenção da Avape é tornar o projeto auto-sustentável e ainda ampliá-lo. Outras 11 áreas, pertencentes à Eletropaulo, estão sendo pleiteadas pela entidade.
"Nossa meta é beneficiar 150 deficientes por ano", diz a psicóloga. A Avape pretende também conseguir compradores de grande porte para as hortaliças produzidas em sua unidade agrícola.
Isso ficou mais fácil com a obtenção do selo de qualidade da Associação de Agricultura Orgânica de São Paulo.
Segundo a psicóloga, alguns clientes, como grandes supermercados, exigem o selo para negociar a compra dos produtos.
Melhor aqui
"É bem melhor estar aqui do que ficar em casa", diz José Mário Vergari, 35, portador de deficiência mental leve.
Já Avelar Hipólito de Mesquita, 34, diz se sentir mais feliz do que na época em que era servente de pedreiro.
"Mexer com a terra é bem melhor do que mexer com cimento", afirma Mesquita.
Outro fator considerado importante pela Avape é a disciplina.
"Todos têm horário para entrar e têm atribuições diárias na horta. Ao final do dia, prestam conta de suas atividades", diz a instrutora Regiane Siqueira Igual, 27, responsável pelo acompanhamento diário dos aprendizes.
Segundo ela, o senso de responsabilidade é um dos atributos necessários para que os excepcionais consigam se inserir no mercado de trabalho.
Regiane Igual, que é artista plástica e já deu aulas para crianças de 1ª a 8ª série, diz que "deficiente não pode receber tratamento de criança".
"As instruções devem ser muito mais simples e criativas, sem deixar de cobrar responsabilidades", afirma ela.
Os excepcionais desenvolvem ainda outras atividades.
"O trato com a terra, no entanto, é a ocupação que mais os auxilia", diz Regiane Igual

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