São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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PF investiga o uso de notas fiscais frias

Polícia faz apreensão em SP

DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal de São Paulo encontrou notas fiscais falsas no valor de alguns milhões de reais na sede da Izar Artes Gráficas, que fica na Vila Mariana (zona sul). Essas notas podem ter sido usadas para "esquentar" dinheiro obtido com o chamado "esquema dos precatórios", que emitiu e vendeu irregularmente títulos públicos.
Segundo depoimento à PF do dono da gráfica Izar, Celso Ishuy, sua gráfica produzia as notas falsas por encomenda do grupo empresarial Monte Cristo. Ele confessou o crime e afirmou que seu objetivo era obter dinheiro para tratar de uma irmã doente.
As notas frias da Monte Cristo saiam em nome de empresas como a construtora OAS e a Vega Sopave, que atua no setor de limpeza pública, e a agência Propeg. As duas primeiras prestam serviço para a Prefeitura de São Paulo.
Segundo depoimento de Sandra Branco Malago, secretária da Monte Cristo, e de Maria Delfina Fazzani Nicolini, que foi tesoureira da empresa por 20 anos, as notas frias para a OAS e para a Vega eram solicitadas por Victor Hugo Castanho, ex-colega de trabalho e amigo de Wagner Baptista Ramos, chefe do esquema dos precatórios.
Dinheiro
Segundo rastreamento do Banco Central feito para a CPI dos Precatórios, Castanho recebeu R$ 100 mil do esquema de emissão irregular de títulos de Santa Catarina, organizado por Wagner Ramos.
Na época, Castanho afirmou que os R$ 100 mil eram provenientes de uma venda de dólares que ele havia realizado em uma das empresas de Enrico Piccioto, da corretora Split, também envolvida no esquema dos precatórios.
Piccioto negou que já tenha feito algum negócio com Castanho.
O dono da Monte Cristo, Samir Assad, depôs na Polícia Federal antes da descoberta das notas frias em nome de sua empresa. Ontem, sua secretária informou que ele não estava em São Paulo.
Na agenda de telefones de Assad, apreendida pela PF, constam os telefones de Flávio e Otávio Maluf, os dois filhos do ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf.
O empresário disse que "tem relacionamento social" com Otávio e que conhece "de vista" Flávio.
Ontem, o presidente da Propeg, Rodrigo Menezes, afirmou que a Monte Cristo é uma das fornecedoras da sua agência. Mas que não tem nenhuma informação sobre as notas frias encontradas na gráfica.
A Polícia Federal encontrou notas frias de supostos serviços prestados pela OAS à Monte Cristo no valor de R$ 2,1 milhões. Para a empresa Ultratec, também do grupo OAS, foram encontradas notas no valor de R$ 2,7 milhões.
Para a agência Propeg, foram encontradas notas fiscais frias no valor de R$ 1,1 milhão. Elas teriam sido emitidas pela Monte Cristo por "serviços prestados de produção e criação para diversas campanhas de prospecção de clientes". Nas notas, aparece escrito o nome de Victor Hugo Castanho.

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