São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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Empresa também defende clínico

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Apontados como responsáveis pela quebra da relação médico-paciente, os seguros-saúde e as empresas de medicina de grupo estão agora pregando a volta do clínico geral. Algumas empresas estão exigindo que seus associados passem primeiro por um generalista.
Caberá a ele encaminhar ou não o doente a um especialista. "Esse médico é o que nos EUA chamam de 'gate keeper', é o responsável pela entrada do paciente no sistema", diz Arlindo de Almeida, presidente da Abramge (Associação Brasileira de Medicina de Grupo).
A opção pelo generalista, no caso das empresas, é mais uma solução de caixa do que uma preocupação com o paciente. Se o clínico-geral puder dedicar mais tempo a seu doente, pedirá menos exames.
Até agora, o sistema só tem incentivado o desperdício e a má medicina: ao oferecer pouco por um atendimento -cerca de R$ 20,00-, as empresas levam o profissional a encurtar a consulta e a aumentar o número de exames.
Segundo Almeida, cada associado faz, em média, 4,5 consultas por ano e, a cada 100 consultas, são pedidos até 110 exames. "O generalista poderá baixar essas metas."
O presidente da Abramge diz que algumas empresas no Brasil já estão trabalhando com "pacotes hospitalares", dentro de um espírito batizado nos EUA de "cuidados administrados". Em lugar de pagar por procedimentos -uma consulta, um exame etc-, a empresa estabelece um valor por um conjunto de operações.
O ideal, segundo Almeida, é o que empresas da Califórnia colocaram em prática -um sistema em que o pagamento é feito per capita, com um envolvimento direto entre o clínico e a empresa. O princípio é estabelecer valores médios por pessoas que são pagos a um grupo de médicos.
As pessoas escolhem um generalista numa lista oferecida e passam, assim, a ter seu médico pessoal ou de família.
Quanto menos exame pedir -ou menos encaminhamentos a especialistas fizer-, o grupo de médicos ganhará mais. "Há um rigoroso controle de qualidade para evitar que o lucro resulte em prejuízo para o paciente", diz Almeida.
No Brasil, o perigo ainda está numa certa "selvageria" do mercado, alertam alguns médicos. Sem controle, as empresas podem restringir o direito de escolha do paciente e cortar o número de exames aleatoriamente.
(AB)

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