São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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'Indo até o Fim' exibe sexualidade dos 50

ADRIANE GRAU
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

A geração de norte-americanos que estava em idade militar durante a Guerra da Coréia se divide em dois tipos. Os que foram e os que não foram. Dan Wakefield, autor de "Indo Até o Fim", está entre os que não foram.
Assim como Sonny Burns, o personagem principal do filme que passa hoje na Mostra, ele ficou nos Estados Unidos. Estudou literatura na Universidade Columbia, tornou-se escritor e resolveu contar em livro as incertezas e culpas dos que preferiram a segurança do lar aos riscos da guerra.
O livro "Indo Até o Fim" acabou vendendo mais de 1 milhão de cópias e chamou a atenção do escritor Kurt Vonnegut Jr. logo após sua publicação, em 1970. "É a mais realista e engraçada novela sexual escrita", afirmou este em entrevista ao "St. Louis Post-Dispatch" na época.
Vonnegut e Wakefield foram colegas de escola. Os dois escritores cultivam até hoje a amizade que surgiu na sala de aula, e Vonnegut escreveu o prefácio para a reedição de "Indo até o Fim", que chegou às livrarias junto com a estréia do filme nos EUA em setembro.
"'Indo Até o Fim' é sobre o inferno de ser exageradamente sexual em Indianápolis e por que pessoas exageradamente sexuais fogem de lá", escreveu Vonnegut. "E eu garanto isso: tendo escrito o livro, Wakefield jamais poderá voltar para casa. De agora em diante terá que assistir à corrida das 500 milhas pela televisão."
Para Wakefield, o retorno ao lar após a experiência de guerra mudou várias gerações, mas não é o ponto mais importante do filme. "Há tão poucos livros mostrando o companheirismo entre jovens", afirmou o escritor. "Por isso quis ver minha história na tela, como um filme", disse Wakefield.
Conversando com a Folha após a exibição do filme no Variety Club de San Francisco em agosto, ele revelou que os direitos para o cinema haviam sido comprados cinco vezes antes de o diretor Mark Pellington iniciar o projeto em 1994.
As inseguranças e trapalhadas de Sonny Burns, interpretado por Jeremy Davies, que fica obcecado com a amizade de Gunner Casselman (Ben Affleck), são mostradas com humor e nostalgia.
O autor não nega que o desajeitado e reprimido Sonny seja ele mesmo. O descontraído e sofisticado Gunner foi baseado em seu melhor amigo de 40 anos, Ted Steeg, que interpreta o pastor no filme.
A paixão que Sonny tem pela mãe do melhor amigo é, segundo, Wakefield, típica da geração pré-revolução sexual. "Naquela época não havia pílula, nem camisinha", disse ele. "Tudo o que tínhamos era a imaginação."

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