São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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Arundhati Roy vira a estrela de Frankfurt

JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

A escritora indiana Arundhati Roy, 37, é o que se pode chamar de uma celebridade instantânea.
Premiada na semana passada na Grã-Bretanha com o prestigioso Booker Prize por seu primeiro livro, o romance "The God of Small Things", ela acabou se tornando a grande estrela da Feira do Livro de Frankfurt, que acabou ontem.
O evento de apresentação de seu livro na feira, no sábado, converteu-se numa concorrida e conturbada entrevista coletiva.
Depois de ler um trecho do livro, que conta a história de uma mulher do sul da Índia que tenta se libertar das tradições do país no final dos anos 60, Arundhati teve de responder a todo tipo de pergunta da platéia.
Disse que ficou surpresa com a premiação, já que os britânicos não costumam conceder o Booker Prize a obras que já estão tendo sucesso, como a sua.
Imoralidade
"Como o livro foi recebido na Índia?", perguntou alguém. "Tão bem como nos outros lugares", respondeu a escritora, que vive em Nova Déli. "Só que estou tendo de responder a um processo por imoralidade movido por um homem que julga ter uma moralidade superior à minha."
O motivo do processo é a descrição velada, no livro, de um relacionamento erótico que subverte o tabu das castas.
Ao explicar o título de seu romance, Arundhati disse que Deus não é uma entidade grandiosa e distante, mas sim uma presença que se vê nas pequenas coisas. "A ficção é uma forma de conectar as pequenas e as grandes coisas."
A autora disse não saber o que vai escrever a seguir. "Não me vejo como uma escritora profissional. Acho que a gente escreve o livro que pede para ser escrito."
A respeito de uma eventual adaptação do romance para o cinema, Arundhati Roy, que já trabalhou como roteirista, disse que vai pensar muito antes de vender os direitos, pois teme distorções.
Bonita e sorridente, a escritora indiana conquistou todo mundo em Frankfurt, mas sua escolha para o Booker Prize suscitou discussão. Para o crítico Arthur Nestrovski, editor da Imago e colaborador da Folha, o prêmio reflete um critério mais étnico e geopolítico que literário.
Na Inglaterra, a escritora Antonia Byatt disse que o livro de Arundhati "dilui a obra de Salman Rushdie e de outros".
"O Deus das Pequenas Coisas" será publicado no Brasil em 1998 pela Companhia das Letras.

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