São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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Nômades começam a votar na Argélia

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

As populações nômades do deserto do Saara começaram a votar ontem na Argélia em "urnas itinerantes", três dias antes da realização das eleições locais em todo o país.
A lei eleitoral autoriza os governadores locais a utilizar as "urnas itinerantes" para alcançar as populações das regiões mais remotas do deserto do Saara. Os nômades argelinos são em sua maioria tuaregues (subgrupo da etnia berbere). Eles vivem em torno dos oásis na região sudeste do país.
As tribos tuaregues ainda mantêm uma estrutura social feudal, com nobres, clérigos, vassalos, artesões e trabalhadores (escravos no século passado). Sua importância como mercadores do deserto vem diminuindo neste século com a introdução de novos meios de transporte, como ferrovias e auto-estradas.
Violência
A rotina de violência continuou no fim-de-semana passado na Argélia. Segundo os jornais argelinos, extremistas islâmicos mataram 21 pessoas numa série de ataques pelo país. Já as forças de segurança do governo mataram 12 rebeldes islâmicos numa emboscada perto de Argel (capital).
O governo intensificou a repressão contra os grupos islâmicos radicais para garantir a realização das eleições locais de quinta-feira.
Mais de 60 mil pessoas já morreram na Argélia desde o início dos conflitos entre o governo e os grupos extremistas muçulmanos, iniciados em 1992 depois que o governo anulou eleições que estavam sendo vencidas pela Frente Islâmica de Salvação (FIS), partido islâmico radical.
Os massacres contra civis aumentaram nos últimos meses, com investidas contra aldeias perto de Argel matando centenas de pessoas -boa parte delas crianças, mulheres e idosos. Há suspeitas de que grupos governamentais possam estar por trás de alguns ataques.
Pistoleiros mataram ontem um candidato e três simpatizantes do partido islâmico Movimento para uma Sociedade Pacífica em uma mesquita da Província de El Oued, no sudoeste do país.
Foi o nono candidato das eleições a ser morto este ano. Cerca de 15 milhões de argelinos podem votar. Serão eleitos cerca de 1.500 conselhos locais e 48 conselhos provinciais. Quase 80 mil candidatos estão concorrendo.
Pressão internacional
A FIS ontem pediu que a comunidade internacional pressione o governo argelino para que inicie negociações com os rebeldes islâmicos.
Num comunicado divulgado pela FIS na Alemanha, sua sede no exílio, o grupo pede que os governos e organizações internacionais oficiais "tentem convencer o governo argelino a negociar um acordo político".
O governo argelino rejeita qualquer intervenção externa na crise do país.
Um líder do FIS entrevistado pelo jornal francês "Le Monde" disse em Argel que o governo do país está rejeitando qualquer diálogo político e busca uma rendição incondicional dos rebeldes.
"Essa estratégia fracassará", diz o líder do FIS, que preferiu não se identificar ao "Le Monde". O jornal disse apenas que ele foi libertado recentemente, após ficar cinco anos preso.

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