São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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Versolato tenta reestruturar sua grife

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O estilista brasileiro Ocimar Versolato está tentando reestruturar a marca que leva seu nome. Essa foi uma das razões para sua saída da maison Lanvin -anunciada na última semana na França-, segundo afirmou em entrevista à Folha, por telefone, de Paris.
Com o fim de um acordo que lhe garantia crédito no Banco Nacional de Paris (BNP), Versolato teve de pedir o reescalonamento de uma dívida equivalente a US$ 300 mil dólares com a previdência social francesa.
"Hoje eu não tenho dinheiro em caixa, mas minha empresa continua existindo. Posso garantir o seguinte: eu não estou concordatário. Só pedi um fôlego para pagar minha dívida social", afirmou.
Versolato também revelou que substituiu o diretor de sua empresa, prepara um processo contra o BNP e aprecia propostas de sócios. A seguir, trechos da entrevista.
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Folha - Qual foi o motivo de sua saída da maison Lanvin?
Ocimar Versolato - Quando entrei, a Lanvin tinha um déficit de 50 milhões de francos. Após dois anos, pela primeira vez em muito tempo, ela zerou. Fiz entrar dinheiro. Mas o que eles querem não corresponde ao que eu quero. Minha empresa começou a ter problemas, então vou parar e cuidar dela. Nós conversamos e decidimos nos separar. E a menina que vai me substituir (Cristina Ortiz, 31) é para fazer uma segunda linha, nunca uma primeira linha.
Folha - E as dívidas da sua grife?
Versolato - Isso não existe, não estou em concordata. O que acontece é que a previdência social na França é altíssima. A coisa mais normal do mundo é negociar.
Folha - Você vai pagar no prazo?
Versolato - Se não fosse, a França já teria fechado minha empresa.
Folha - E os seus fornecedores?
Versolato - A dívida é normal. Comprei na última estação, estou pagando agora. Compro agora, pago na próxima, como toda empresa de prêt-à-porter do mundo.
Folha - Como você define sua situação financeira atualmente?
Versolato - Comecei minha empresa com US$ 3 mil. O problema das empresas de prêt-à-porter é o fluxo de caixa. A gente investe tudo na coleção durante seis meses, no desfile, no tecido, nos salários. Aí recebe tudo de uma vez só. Nunca tive um fluxo de caixa que correspondesse às minhas necessidades, mas resolvi com uma linha de crédito no banco BNP.
Folha - E você perdeu o crédito?
Versolato - Depois do desfile de março. Estou preparando um processo contra eles. O banco não tinha o direito de cortar meu crédito sem justificativa, numa conta que nunca teve problema. Mas isso não impede que a minha empresa continue a existir. Ter perdido esse acordo foi um problema de gerenciamento, que, se eu estivesse aqui, não teria acontecido.
Folha - Você está procurando um parceiro brasileiro?
Versolato - Eu sou o maior estilista que já existiu no Brasil. Porque eu não posso me aproveitar disso? O Brasil sempre esteve nos meus planos. Sou um dos poucos estilistas no mundo -porque todos já venderam o nome, a marca, a alma, tudo- dono 100% do meu nome. O telefone não pára.
Folha - O que você exige?
Versolato - A única coisa de que eu gosto é o discurso. Se me quiserem porque serei o grande estilista do ano 2000, eu aceito (risos). No Brasil, recebi propostas para lançar minha segunda linha. Mas, por enquanto, isso é só um projeto.
Folha - A nova coleção está ameaçada?
Versolato - Não, eu posso continuar existindo do jeito que eu estou. Só não posso crescer, começar a investir em comunicação, abrir butique em Paris...
Folha - Quanto você gasta para fazer uma coleção?
Versolato - O mais caro é o meu tempo e isso eu tenho 100%. Você pode fazer uma coleção com US$ 3 mil, como fiz a minha primeira, ou pode gastar US$ 1 milhão.
Folha - Qual o seu patamar hoje?
Versolato - Faço como sempre. Há um orçamento feito pela administração que eu sempre respeito. O mais importante é a criação e ninguém pode duvidar de que sou capaz de fazer uma boa coleção.

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