São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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Liberou geral

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Não só os governadores aliados ao Palácio do Planalto estão ansiosos por verbas, melhores índices nas pesquisas e boas perspectivas de reeleição. Os de oposição também.
Fernando Henrique Cardoso não se faz de rogado e abre a agenda do governo para oposicionistas pragmáticos. Um bom exemplo, talvez o melhor, é o governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque. Ele conversou com FHC quase duas horas, dez dias atrás, no Palácio da Alvorada. E almoça com o ministro Pedro Malan na próxima quinta.
FHC se compromete a não jogar a poderosa máquina federal contra Buarque nas eleições de 1998. Em troca, pede uma disputa elegante e deixa mais ou menos articulada uma convivência pacífica a partir de 1999, no seu eventual segundo mandato.
E o que Malan tem a ver com isso? Bem, FHC gira a chave, mas o ministro da Fazenda é quem abre o cofre.
Buarque está com a corda no pescoço, como todo governador, mas seu caso é ainda mais delicado do que o dos demais: 55% do orçamento do DF vem da área federal.
De imediato, quer o aval da Fazenda para US$ 120 milhões que o BID destinou a programas de água, esgoto e asfalto no DF. São palavrinhas mágicas em qualquer palanque eleitoral.
Malan vinha sentando em cima do aval, provavelmente por pressão do líder do governo no Congresso, senador José Roberto Arruda. Ele é pré-candidato do PSDB ao governo do DF, contra Buarque.
Malan conhece Buarque desde a juventude, quando os dois eram estudantes de engenharia e viajaram juntos para os EUA. Deve oferecer-lhe uma fórmula mista: o governo avaliza algo em torno de US$ 80 milhões e libera o restante por alguma janela qualquer do orçamento. Assim, Buarque consegue a grana e Arruda divide com ele os louros -e as placas de publicidade oficial. E ficam todos felizes.
Em 98, cada um fica de um lado, mas sem meter a mãe no meio, enquanto o país vai virando aos poucos um grande canteiro de obras. Eleitoreiras, é claro. A partir de 99, tudo volta a ser uma grande família.

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