São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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Os pequenos déspotas

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A entrevista publicada domingo com o ex-deputado federal Agripino Lima (PFL) equivale a um compêndio completo sobre a cabeça de boa parte dos políticos brasileiros.
Pequena amostra: questionado se usaria em uma eventual campanha para governador os aviões de propriedade de sua Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), Lima diz que sim. E explica: "Eu tenho que viabilizar minha candidatura e meus propósitos, que são honestos".
Pouco importa que a Unoeste, como as universidades em geral, goze de isenções fiscais, o que leva a supor que os aviões foram comprados, ao menos em parte, com dinheiro público.
Parece cinismo, mas é algo ainda mais grave. Lima comporta-se como a grande maioria dos homens públicos brasileiros: se acha que seus propósitos são "honestos", não se importa com os meios para alcançá-los. Podem ser cínicos, desonestos, o diabo.
Claro que há uma fatia dos políticos que entra no jogo pura e simplesmente para enriquecer. Mas suspeito que a maioria não é intrinsecamente desonesta. Apenas tem uma visão totalmente distorcida do que é o jogo democrático.
Como Lima, muitos acreditam que têm uma missão ("honesta") a cumprir e valem-se de todos os meios para "viabilizá-la".
No fundo, acham que receberam uma delegação popular (ou divina) e, por isso, não precisam prestar contas. São pequenos déspotas supostamente esclarecidos e ficam até indignados quando alguém ousa duvidar de seus "honestos" propósitos.
O ministro Sérgio Motta (Comunicações) deu outra amostra do estilo, na entrevista ao "Passando a Limpo", o programa de Boris Casoy. Três ou quatro vezes, tascou um "eu garanto" (telefones, linhas etc). Também está convencido de que é tão honesto e tão "realizador" que basta a sua palavra para que o público aceite-a como se fosse um telefone instalado e não apenas uma promessa.

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