São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 1997
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Deputado quer apurar mortos pela polícia

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

A comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro quer a reabertura das investigações de 120 mortes com indícios de execução por policiais civis ou militares.
Um relatório divulgado ontem pela Alerj e pelo Iser (Instituto de Estudos da Religião) revela que, em 1.194 confrontos com mortes de civis, pelo menos 65% das 942 vítimas levaram tiros pelas costas, e 61%, tiros na cabeça.
Há 40 casos de mortes por tiros à queima-roupa e pelo menos mais 80 casos com indícios de execução, como tiros no ouvido ou na cabeça. Os dados referem-se a 1993, 1994, 1995 e 1996 (até julho).
As informações foram obtidas em documentos oficiais da Polícia Civil, do Instituto Médico Legal e da Justiça Militar, analisados por pesquisadores do Iser e pela equipe de Nélson Massini, legista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O relatório informa que, desde a posse de Nilton Cerqueira, em maio de 1995, o número mensal de mortos civis em confronto com a polícia passou de 16 para 32. A taxa de letalidade -relação entre mortos e feridos- também dobrou.
"Antes de Cerqueira, a taxa de letalidade era de 1,7 morto para cada ferido. Depois dele, temos 3,5 mortos para cada ferido. Em comparação, houve 26 policiais mortos e 122 feridos. A polícia mata mais que fere, e os traficantes, mesmo tão bem armados como dizem, ferem mais do que matam", afirma o sociólogo Ignacio Cano, coordenador da pesquisa.
O relatório atribui o aumento do número de mortes aos prêmios em dinheiro e promoções por bravura do atual secretário, conhecidos como "gratificações faroeste".
Em 74% dos casos, não foi feita a perícia de local. Pelo menos 83% dos casos não têm testemunhas civis. Os pesquisadores constataram que, em muitas mortes descritas como "tentativa de fuga e resistência à prisão", a vítima foi baleada à queima-roupa.
"O índice de letalidade no Rio é maior que em São Paulo, Los Angeles e Nova York. A polícia está subindo morro para matar", afirma o deputado Carlos Minc (PT), presidente da comissão de Segurança Pública da Assembléia.
Secretário
O secretário de Estado da Segurança Pública, general Nilton Cerqueira, divulgou nota considerando os dados da pesquisa "suspeitos e tendenciosos" e informando que todos os casos foram analisados pela Justiça.
"Será que alguma vez na vida esses 'cientistas' do ar-condicionado saíram de seu conforto nas madrugadas para conhecer a realidade do tráfico de drogas nas zonas de perigo das nossas favelas?", indaga a nota do general Cerqueira.

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