São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 1997
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Para AEB, país deixa de exportar US$ 8 bi

Motivos são logística falha e restrições

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), Marcus Vinicius Pratini de Moraes, disse ontem que o Brasil está deixando de exportar US$ 8 bilhões por ano por causa de deficiência de logística e das restrições impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.
Os números dados por Pratini -US$ 5 bilhões de perdas pelas deficiências e US$ 3 bilhões pelas restrições norte-americanas- somam cerca de 80% do déficit comercial brasileiro previsto para este ano, na faixa de US$ 10 bilhões, segundo estimativa da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
O déficit comercial é a diferença entre o valor das exportações e o das importações. Ao ser questionado sobre se não havia então problema de sobrevalorização do real atrapalhando as exportações, Pratini disse que não era bem assim.
Segundo ele, como os problemas não se resolvem totalmente de uma só vez, é necessário trabalhar em todas as frentes que dificultam as exportações. Uma delas seria o câmbio (valor de troca do real), embora ele não tenha arriscado nenhum índice para medir a sobrevalorização da moeda.
Em palestra dirigida aos membros da Câmara de Comércio Americana no Rio, Pratini disse que a desvalorização das moedas de países asiáticos como Indonésia, Malásia e Tailândia, concorrentes do Brasil em vários produtos, agravou o problema cambial brasileiro.
Segundo o presidente da AEB, a consequência foi, por exemplo, que a indústria brasileira vende uma tonelada de celulose por US$ 500, praticamente sem lucro, enquanto os concorrentes asiáticos exportam a mesma tonelada por US$ 350 e ainda conseguem lucrar.
Logística
Pratini citou mármore, granito, cerâmica, madeira, partes para casas pré-fabricadas e bens de capital (máquinas e equipamentos) entre aqueles com os quais o Brasil tem perda de receita cambial por deficiência de logística.
Como logística, ele englobou tanto as deficiências de estradas e portos como falta de tecnologia de marketing para atingir os mercados a custos competitivos. "Não basta ser competitivo na porta da fábrica", disse Pratini.
Sobre as restrições norte-americanas a produtos como suco de laranja, calçados e aço, Pratini voltou a dizer que "a Alca não será viável enquanto os EUA não abrirem primeiro seu mercado para os produtos brasileiros".
A Alca é a Área de Livre Comércio das Américas, prevista para ser criada no ano 2005.
Pratini apresentou estatísticas para comprovar a deterioração crescente da posição brasileira no comércio com os Estados Unidos.
Em 1987 o Brasil exportou US$ 7,19 bilhões para os Estados Unidos e importou US$ 3,14 bilhões, obtendo saldo positivo de US$ 4,05 bilhões.
No ano passado, as exportações brasileiras foram de US$ 9,18 bilhões e as importações, de US$ 11,68 bilhões, com déficit de US$ 2,5 bilhões. Neste ano, segundo as estimativas da AEB, o déficit chegará a US$ 5 bilhões.

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