São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 1997
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A vez das psicólogas

ARNALDO RIBEIRO; SÉRGIO TEIXEIRA JR; ALEXANDRE GIMENEZ; LUIZ CESAR PIMENTEL
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de muita resistência, os dirigentes dos clubes brasileiros concluíram que uma partida de futebol não se ganha só com os pés.
Por isso, estão contratando psicólogos -ou, mais frequentemente, psicólogas- para cuidar da "cabeça" dos atletas.
A psicologia, chamada de "ciência do comportamento", é a novidade do ano no futebol.
Os motivos que levaram os clubes a recorrer aos psicólogos são diversos. Um deles é fazer com que o rendimento dos atletas melhore.
Times que fazem má campanha no Brasileiro e estão ameaçados pelo rebaixamento (Fluminense, Guarani e Corinthians) requisitaram os serviços de psicólogos.
"O trabalho de um psicólogo alivia a sobrecarga emocional dos jogadores", disse Paulo Angioni, supervisor do Corinthians, que contratou Fátima Fracon.
A exemplo do rival, Palmeiras e São Paulo planejam contratar psicólogos em breve.
No Palmeiras, a idéia surgiu do diretor de esportes da Parmalat (patrocinadora do time), Paulo Russo. O técnico Luiz Felipe Scolari mostrou resistência. Declarou no início do mês que "quem precisa de psicólogo é homem feio e homem que é traído pela mulher".
Mas ontem ele e Russo iniciaram contatos com Regina Brandão, psicóloga do Internacional (RS).
No São Paulo, há entraves. Seguindo um pedido do técnico Dario Pereyra, que considera o time imaturo, o clube selecionou 1 entre 16 profissionais entrevistados, mas ainda não o contratou.
Motivo: resistência de diretores. Entre as décadas de 50 e 70, o São Paulo teve os serviços de João Carvalhaes, um dos precursores do diálogo entre psicologia e esporte.
Carvalhaes trabalhou com a seleção brasileira em 1958 e ficou famoso por ter "reprovado" Garrincha num exame psicotécnico.
Profissionalismo
Outros clubes, como Santos e Internacional, encaram a presença do psicólogo como imprescindível numa estrutura profissional.
Desde 1993, quando trabalhava no Palmeiras, o técnico santista, Wanderley Luxemburgo, faz questão de contar com o auxílio da psicóloga Suzy Fleury, que trabalhou também no Corinthians.
"A Suzy é muito importante. Ajudou no crescimento da minha produção", disse o meia Caíco.
O Inter criou no início do ano um departamento de psicologia, que é comandado por Regina Brandão, 43, coordenadora do centro de pesquisa em psicologia esportiva da Faculdades Metropolitanas Unidas (SP).
Após entrevistar jogadores e comissão técnica, fez um mapa psicológico da equipe. "Não tentamos fazer terapia. O objetivo é melhorar a performance, mobilizar o grupo para situações específicas, como um jogo contra o Grêmio."
Para Brandão, a área ainda engatinha no Brasil. Cuba, onde ela estudou, levou para a Olimpíada de Atlanta (96) um psicólogo especializado para cada modalidade. Os cubanos (171 atletas) conquistaram 25 medalhas, contra 15 do Brasil (225 atletas).
No Vasco, a psicóloga Maria Helena Antunes Rodrigues integra o departamento de futebol amador do clube há 11 anos.
Os atletas profissionais, em princípio, não têm acompanhamento, mas ela começou a cuidar do problemático atacante Edmundo.
"O rendimento e o comportamento do Edmundo melhoraram muito depois que ele iniciou esse trabalho", disse Antônio Lopes, técnico do Vasco.
Até o departamento de árbitros da Federação Paulista de Futebol iniciou em junho um programa de assessoria psicológica aos juízes.
Topo e descida
Os times também recorrem à auto-ajuda, área em que desponta Evandro Motta. No "ramo" desde meados dos anos 80, ele trabalhou com a seleção campeã da Copa-94. No Brasileiro, já levou seus vídeos e palestras a Flamengo, Lusa, Coritiba, Inter-RS e São Paulo.
Seu método, DOM (Desenvolvimento e Orientação Mental), prega que para melhorar a performance é preciso melhorar a pessoa. Motta diz acreditar que o que motiva jogadores de futebol é o prestígio pessoal. Usa frases como: "Após o topo, só vem descida" e "importante é o bem, que leva adiante, não o bom, prazer momentâneo".

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