São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 1997
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Autor é figura única no mundo dos quadrinhos

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Will Eisner é uma figura única da história das histórias em quadrinhos. Ele é o único a conseguir fazer vários modelos de HQ e ser magistral em todos.
Eisner fez tiras, histórias de uma página, novelas em quadrinhos, charges, ilustrações... Até ensinar os segredos dessa arte é uma coisa que ele fez muito bem, em dois livros essenciais para quem pretende seguir carreira na prancheta.
E qual o segredo de Eisner? Certamente, sua capacidade de retratar a vida nos quadrinhos. Ele fez isso como ninguém.
Não foi um autor preso a personagens, como Stan Lee ou Walt Disney. Seus heróis eram sempre pessoas comuns que, na maioria das vezes, ficariam envergonhadas de serem chamadas de heróis.
Claro que o Spirit é um trabalho marcante na carreira de Eisner, mas quem conhece um pouco de suas outras criações sabe que a força maior do autor vem daqueles que ele chamava de "ordinary people".
Analisando bem, a única coisa que o Spirit tem de herói é a diminuta máscara. Foi o máximo de concessão que Eisner fez ao universo dos heróis voadores. E aqui não cabe qualquer crítica dele aos super-heróis.
Eisner os adorava, só que preferia fazer histórias com meninos jornaleiros, velhinhos bêbados e vagabundos de rua.
Eisner chegou a empregar os quadrinhos até em seus esforços de guerra. Desenhou gibis em que ensinava os soldados a substituir carburadores, consertar motores de carros e fazer toda a limpeza de seu equipamento. Os gibis dele superavam a eficiência dos manuais.
Eisner também desenhou revistas para indústrias e hospitais, colocando seu traço a serviço de qualquer mensagem que, para ele, valesse a pena. Nos anos 70, fez campanha para que os quadrinhos ganhassem espaço nas bibliotecas.
Um de seus trabalhos mais recentes, a novela gráfica "Um Contrato com Deus", consegue ser tão empolgante quanto o cavaleiro das Trevas de Frank Miller ou o Spawn de Todd McFarlane. Por falar nisso, alguém já reparou nas inúmeras referências a Spirit que existem na saga de Spawn?
Voltando à bela "Um Contrato com Deus", é apenas uma singela reconstituição da vida no Bronx durante a Depressão.
Para Eisner, seus personagens mostram a maior aventura do homem, que é sua percepção da existência de Deus.
Ler as páginas em preto-e-branco escritas por Eisner é também uma jornada de percepção. É compreender uma pessoa como ele, que escolheu os gibis como meio de retratar a vida.

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