São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 1997
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A CIRANDA DOS JUROS

A estabilidade da moeda brasileira foi conquistada graças à abertura às importações e à âncora cambial que, logo no início, fez o real valer mais que o dólar. O ritmo da abertura às importações tem sido revisado. Quanto à política cambial, mudou a forma, não o conteúdo. Primeiro houve a valorização com relação ao dólar. Depois, houve atraso na correção do câmbio comparada à inflação. Na fase mais recente, a opção do governo é reduzir, ou mesmo eliminar, a longo prazo, a defasagem cambial.
Explica-se. A mesma taxa de câmbio que barateia as importações e ajuda a segurar os preços produziu um déficit comercial crescente. Mas todas essas medidas dependem de um único instrumento: a manutenção de taxas de juros elevadas.
O déficit comercial, mais as despesas com remessas de lucros e dividendos e o serviço da dívida externa, chegam aos US$ 60 bilhões por ano.
Para atrair recursos suficientes para cobrir esse déficit, o governo precisa manter os juros elevados, além de apostar na rapidez e no sucesso da privatização e dos investimentos diretos. Além disso, os bancos no Brasil ampliaram suas redes de captação de recursos externos. Como no passado, paga-se a dívida para ao mesmo tempo contrair novas dívidas.
Se reduzisse juros, o governo correria o risco de interromper a ciranda. Isto é, a âncora cambial -a preservação das reservas internacionais- e a capacidade de manter a economia aberta às importações dependem dos juros altos. O problema é que o peso dos juros também se faz sentir sobre as contas públicas e é um grande obstáculo ao aumento de gastos em áreas sociais. Mais ainda, o juro alto debilita a economia como um todo, sacrifica a classe média endividada e inibe o investimento produtivo.
Sem os juros, a âncora se rompe. Com tais juros, o barco navega mal.
Este é o dilema que mina por dentro a estabilidade econômica tão duramente mantida até agora.

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