São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 1997
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Carlito e "Cardoço"

CLÓVIS ROSSI

Buenos Aires - As eleições legislativas de domingo na Argentina são um desafio à teoria que diz que o bolso é a parte mais sensível do corpo humano.
Há dois anos, o bolso dos argentinos em geral andava vazio. O país estava mergulhado na recessão provocada pelas sequelas da crise mexicana. A economia argentina retrocederia, em 95, 4,6%, um baque para ninguém botar defeito. O desemprego era recorde, nas alturas de 18,4%.
Graças, no entanto, à inflação baixa, o presidente Carlos Menem reelegeu-se comodamente, já no primeiro turno, com 20 pontos percentuais de vantagem sobre o segundo colocado.
Hoje, a economia avança a um ritmo asiático (8% de crescimento no primeiro semestre) e o desemprego, embora ainda brutalmente elevado (16,1%), é dois pontos inferior a 95.
Não obstante, o partido de Menem ou perderá as eleições ou, na melhor das hipóteses, ganhará com margem mínima.
Claro que sempre se poderá dizer que a eleição de domingo não põe em jogo o principal (a Presidência), o que permite ao eleitor brincar de voto castigo ao governo, sem o risco de mudanças fundamentais no jogo.
Ainda assim, parece pouco para explicar tão formidável reviravolta no humor dos argentinos em dois anos.
A verdade é que aplica-se à Argentina de 1997 o que o general Médici dizia do Brasil, um quarto de século atrás: o país vai bem, o povo vai mal.
Ou, pelo menos, acha que vai mal. Tanto que 74,6% dos argentinos expressaram tal sentimento, em pesquisa publicada semana passada.
Carlito, como o presidente Menem é chamado pelos íntimos, vai acabar pagando o pato por essa "malaise" difusa. Há, nisso, uma lição para "Cardoço", como os argentinos pronunciam o sobrenome do presidente brasileiro.
Mesmo que ganhe em 98, como hoje parece o mais provável, pode perder o brilho no segundo período, como Carlito está perdendo velozmente.

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