São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 1997
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Restam 7% da mata atlântica nativa do país

Devastação é maior no interior

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil tem hoje apenas 7% da mata atlântica original que cobria o território nacional.
E a devastação da vegetação continua intensa. Entre os anos de 1990 e 1995, a redução da mata nativa foi de 20,45%.
As informações são de uma análise comparativa entre dois estudos baseados em fotografias de satélite, coordenados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e pela organização ambiental Fundação SOS Mata Atlântica.
Ao mesmo tempo que ambientalistas revelam essa grave situação, a Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados aprovou ontem um projeto de lei substitutivo que, na prática, pode facilitar o desmatamento da vegetação remanescente. A proposta do deputado Paulo Bornhausen (PFL-SC) dispensa estudos de impacto ambiental e municipaliza as decisões para novas ocupações (leia texto nesta página).
O primeiro levantamento (concluído em 1993), feito com fotos de 1985 e 1990, mostrou que o país tinha 8,8% da mata atlântica original. Na época, o desflorestamento ocorria à velocidade de uma área equivalente a cerca de 420 campos de futebol por dia.
O segundo levantamento, que analisa o período entre 1990 e 1995, revela que a área total de mata atlântica no país diminuiu para 7% da original.
A região remanescente compreende uma área equivalente a 56 cidades de São Paulo (com 1.493 km2). Originalmente, a mata atlântica tinha área equivalente à de 803 cidades de São Paulo.
Segundo João Paulo Capobianco, secretário-executivo do ISA (Instituto Socioambiental), entidade que participa do estudo, a maior perda de vegetação no período ocorreu nas áreas interioranas do país. "Na faixa litorânea, há uma tendência à estabilização."
O estudo comparativo revela que o sul da Bahia e os Estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro são as áreas que mais perderam mata atlântica original.
Capobianco afirma que, na Bahia, o desmatamento tem ocorrido principalmente por causa da crise do cacau, uma lavoura que necessita do sombreamento oferecido pelas árvores nativas.
"Como o preço do cacau caiu no mercado internacional, muitos agricultores trocaram as plantações por pastagens, devastando a mata atlântica que estava junto à vegetação nativa", diz.
Para o coordenador das promotorias de meio ambiente do Ministério Público de São Paulo, Antônio Herman Benjamin, os dados mostram que o país está na contramão da tendência mundial de preservação. "Não temos uma política de proteção dos ecossistemas."

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