São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 1997
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Frei exibe conflito de gerações em Cuba

RUI MARTINS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Christian Frei, um suíço de 38 anos, foi o primeiro a filmar com autorização de Fidel Castro a imigração legal de uma família cubana, em abril de 95, de Havana para Miami. Uma família muito especial, a de um dos soldados que lutou na Revolução Cubana.
Outro aspecto que o documentário de Frei mostra é um conflito de gerações, entre Ricardo, o pai e revolucionário, e Miriam, a filha, que queria viver em Miami.
Seu filme "Ricardo, Miriam e Fidel" será exibido hoje na Mostra Internacional de Cinema. Leia abaixo os principais trechos da entrevista que Christian Frei concedeu à Folha, de Zurique, na Suíça.
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Folha - A história de seu filme, a divergência política entre um pai e uma filha, sintetiza a situação atual em Cuba?
Christian Frei - Acho que sim. Quando falei com Miriam e sua família, ela me falou de sua vontade de sair de Cuba. Num primeiro momento, isso não me interessou como tema para um filme, pois milhares de cubanos querem partir. Mas ficou interessante quando me falou de seu pai, fundador da Rádio Rebelde, importante para o triunfo da Revolução Cubana. Foi aí que percebi que poderia filmar essa divergência entre um pai revolucionário e uma filha que desejava partir.
Folha - Mas ela não é adepta do capitalismo americano, né?
Frei - Exatamente. Ela não é uma pessoa de direita. Critica Castro, mas sob um ponto de vista de esquerda. Ela sabia que seria duro viver nos EUA, mas não sabia que seria tão duro. Ela sofreu com a falta de comunicação em Miami. Miami não é pequena como Havana, e as pessoas ficam isoladas. Sempre a vi assim, isolada no meio de dois países.
Folha - Como você conseguiu autorização para filmar em Havana?
Frei - Tive que falar com o secretário do Conselho de Estado de Cuba, que é também o chefe do estúdio de vídeo de Fidel Castro. Falei abertamente sobre meu projeto e disse que me interessava a verdade das duas pessoas, a do pai e a da filha. Ele falou com Fidel, que disse: "Deixe ele fazer o filme". É claro que o filme não vai passar em Havana, mas foi importante obter essa autorização.
Folha - Como levantou o dinheiro para as filmagens?
Frei - Foi difícil porque o roteiro do filme não tem nada a ver com a Suíça. Com muita dificuldade, consegui alguma coisa com o Estado e alguns cantões, mas a maior parte do orçamento saiu das minhas economias, cerca de US$ 200 mil que eu tinha. Uma ninharia para fazer um filme em 35 mm com todos os requisitos técnicos. No total, foram só US$ 350 mil.
Folha - É dinheiro recuperável?
Frei - É difícil recuperar, mas esse trabalho, o cinema, a gente não faz por dinheiro. Eu ganho dinheiro fazendo filmes comerciais para empresas e guardo uma parte para meus filmes. Mas, dessa vez, é possível que consigamos pagar a produção. O filme foi exibido na maioria dos festivais suíços e logo começará a ser vendido, inclusive para a TV.

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