São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 1997
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"Estereótipo" desvenda Eslovênia pop

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Eslovênia também é pop. O lado besteirol do país mais pacífico da ex-Iugoslávia está no filme "Estereótipo", primeiro longa-metragem profissional do diretor Damjan Kozole, 33, que terá sua última exibição hoje na 21ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Para contar a história de um incompreendido artista plástico e sua mulher descontente, o diretor levou para o cinema um astro da música local, o cantor Roberto Magnifico -responsável também pela trilha sonora do filme.
Alto, magro, cabelos finos, compridos e escorridos, Magnifico não é exatamente o estereótipo de beleza masculina. Ídolo pop na Eslovênia -tem fãs dos 13 aos 40 anos-, encarna um fracassado nas telas.
"Ele foi criado para ser um gênio, mas apenas para si próprio", diz o diretor, que está em São Paulo para promover o filme.
Durante dez anos, Max (o protagonista) faz uma série de quadros intitulada "óleo sobre tela". Sua obviedade alcança o literal: ele intitula cada obra como óleo de oliva ou óleo para a pele e, óbvio, não consegue vender nenhum. "O personagem é muito parecido comigo", diz Magnifico, que acompanha Kozole no Brasil.
Max vive rodeado por outros artistas frustrados e prega que tudo tem de ser abolido da sociedade, incluindo política e economia, em prol da arte.
"É um país onde todos querem ser artistas. Qualquer pessoa decide fazer uma obra, sem ao menos se preocupar se tem talento para isso", diz Kozole.
Uma das poucas resignadas à sua condição de trabalhadora comum é a mulher de Max, Marjetka. Mas tudo isso muda na reviravolta final. Cansada das promessas de Max, ela assassina o marido. Vai para a prisão, escreve a história de sua vida e vira uma celebridade.
Em "Estereótipo", também não faltam citações. Até um motorista de táxi reproduz frases do escritor Albert Camus. "É sempre fora de contexto, soa estúpido. É o tipo de coisa muito chata", diz o diretor.
Para quem ainda estranha o fato de um filme esloveno não retratar a guerra na ex-Iugoslávia, o diretor explica: "Liubliana (a capital) é como Casablanca. Lá vivem sérvios, croatas e bósnios sem nenhum conflito".
Magnifico, por exemplo, é filho de sérvios. Diferentemente do que seu nome pode sugerir, ele não tem nenhuma ligação com a Itália. As razões para a escolha do nome podem ser classificadas como mercadológicas. "Todo mundo sabe o que significa, até nos Estados Unidos", diz.

Onde: MIS, hoje, às 19h30

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