São Paulo, terça-feira, 4 de novembro de 1997
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Juros são 'pornográficos', afirma Maluf

ROGÉRIO GENTILE
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) criticou ontem o aumento da taxa de juros após chegar em São Paulo, vindo dos Estados Unidos.
Maluf disse que os juros anunciados pelo governo federal são "pornográficos" e que "vão provocar desemprego e a maior recessão (da história) do país".
As declarações de Maluf foram o primeiro sinal das dificuldades que o presidente Fernando Henrique Cardoso vai encontrar, após a crise nas Bolsas, para a consolidação das alianças pró-reeleição.
O ex-prefeito não descartou o apoio a FHC, mas também não pôs de lado a possibilidade de ele mesmo sair candidato à Presidência.
Disse que a decisão caberá ao seu partido, o PPB, cuja convenção será realizada no próximo dia 11.
Maluf, que vai se reunir hoje em Brasília com deputados do partido, já fala como presidente do PPB, decisão que será tomada apenas na convenção.
"Como presidente do partido, sou um juiz. Vamos estudar todas as propostas que foram feitas. Vencerá a que tiver apoio majoritário do partido", disse Maluf.
Em tom de recado, o ex-prefeito disse que FHC, ao montar o bloco para a reeleição, poderá encontrar, em diversos Estados, conflitos entre os partidos aliados e os governadores do PSDB (numa alusão às suas desavenças com o governador de São Paulo, Mário Covas). "O melhor para ele (FHC) é não aparecer", afirmou.
'Paraíso dos especuladores'
Na semana passada, o governo federal praticamente dobrou a taxa de juros após a crise nas Bolsas de Valores. A medida foi tomada para estancar a saída de dólares para o exterior.
Para o ex-prefeito, o aumento dos juros defendeu o caixa do Tesouro, "mas defendeu à custa do sacrifício do povo brasileiro".
"Ninguém pode pagar juros de 4% ao mês. Ninguém pode pagar juros acumulados de mais de 100% ao ano com a moeda estável."
Segundo ele, com essa situação, o Brasil vai ser novamente o "paraíso dos especuladores".
"Virá a recessão, o desemprego e, infelizmente, algumas indústrias brasileiras vão fechar por falta de competitividade com o estrangeiro", afirmou o ex-prefeito.
Durante a entrevista, por duas vezes ele fez questão de dizer que as suas declarações não são uma crítica ao governo de FHC.
"Na minha idade, não faço críticas. Na minha idade, aprendi a ler e a escrever. É uma constatação. Quando você pega um peso e ele cai, você não está criticando. É a lei da gravidade", disse.
O ex-prefeito declarou que, se os juros atuais continuarem em vigor por 90 dias, haverá uma "catástrofe" no Brasil.
Maluf disse que, se fosse presidente, teria tomado durante dois anos outras medidas para evitar a situação atual. Afirmou que teria adotado uma política agressiva de exportação dos produtos brasileiros. "Impediria que entrassem produtos supérfluos, que estão tornando a balança deficitária."
Ele citou como supérfluo "carnes de todos os lugares do mundo vendidas em São Paulo".
Maluf disse, por exemplo, que o Brasil está salvado a economia argentina, mas não está recebendo a contrapartida.
"Abrimos um mercado de 150 milhões de pessoas para eles, mas eles não abriram o seu mercado de 33 milhões para nós. Política externa tem de ter mão e contramão."
Disse também que teria feito "as reformas que o Brasil tanto precisa e o equilíbrio das contas públicas".
CPFL
Maluf criticou também o governador Mário Covas pela privatização da CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz).
Disse que o patrimônio público não pode ser vendido durante um momento de crise econômica.
"Acho que, se tão poucos concorrentes vão participar, ele deveria adiar por um ou dois meses a privatização", afirmou.

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