São Paulo, terça-feira, 4 de novembro de 1997
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FHC confunde grupos de índios pataxós

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso cometeu um engano ontem, quando tentava vincular a demarcação de terras indígenas ao índio Galdino Jesus dos Santos, queimado por adolescentes em abril, em Brasília. Ele anunciou que o governo estava, enfim, concedendo posse definitiva da terra ao povo de Galdino -mas os beneficiados são outros índios.
Galdino estava em Brasília em busca do documento para atender seu grupo, os pataxós hã-hã-hãe, quando foi morto. Eles reivindicavam a retirada de fazendeiros da área pataxó em Pau Brasil (BA) e a posse definitiva da terra.
Assim como FHC, o ministro da Justiça, Iris Rezende, fez questão de destacar que a portaria declaratória -assinada na semana passada- atendia à família de Galdino.
Na verdade, o documento atende a pataxós que vivem em Coroa Vermelha (Porto Seguro, BA).
"Eles (FHC e Iris) falaram em nome do Galdino, mas a gente não recebeu nada. Eles se enganaram", disse Gerson Pataxó, primo de Galdino, que estava em Brasília com ele à época. Gerson afirmou que os representantes das 12 tribos pataxó ficaram "satisfeitos" com a demarcação dessa outra área.
"Meia França"
A confusão ocorreu durante a cerimônia de homologação de 22 terras indígenas, nos jardins do Palácio da Alvorada, no momento em que FHC falava da importância dos decretos demarcatórios.
Os decretos homologam a demarcação de 22 áreas indígenas, no total de 8,4 milhões de hectares, e vão atender a 15,4 mil índios em Rondônia, Tocantins, Amazonas, Pará e Amapá.
FHC usou mais uma vez o território da Europa para comparar a dimensão de suas ações. Ele, que costuma dizer que desapropriou "uma Bélgica" em assentamentos para sem-terra, ontem, na frente do embaixador francês Philippe Lecoutier, disse que seu governo cedeu "meia França" para territórios indígenas.
Neste governo, foram assinados cem atos de reconhecimento territorial reunindo 28 milhões de hectares, correspondentes a 34% da extensão total das terras indígenas -"meia França", segundo FHC. Iris disse que mais 42 áreas, representando 22 milhões de hectares, deverão ser demarcadas até abril.
Diante de embaixadores e de jornalistas estrangeiros, FHC mostrou sua preocupação com a causa. No início de 96, foi criticado internacionalmente por ter assinado portaria que permite a revisão da demarcação de terras indígenas.
O presidente lembrou seu passado ligado à questão indígena, seu papel como membro da Sociedade Antropológica Brasileira, o fato de ter conhecido o marechal Rondon quando criança e sua amizade com o antropólogo Darcy Ribeiro.

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