São Paulo, terça-feira, 4 de novembro de 1997
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Presidente define empresa como 'noivinha fogosa'

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Cesare Manfredi presidente da CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), afirma que o comprador da empresa vai encontrar uma "noivinha fogosa" pronta para encarar a competição na iniciativa privada.
Manfredi, 55, entrou na CPFL há 33 anos, quando a companhia era privada. Nesse período, ela foi federalizada e, depois, passou para as mãos do Estado de São Paulo.
Amanhã, dia do leilão da CPFL, ele deve concluir a tarefa a que se dedica há três anos: preparar a estatal para a privatização. A seguir, os principais trechos de sua entrevista à Folha:

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Folha - O comprador da CPFL vai adquirir uma distribuidora de energia ou mais do que isso?
Cesare Manfredi - Quem vai dar o maior lance na CPFL será o comprador que tem visão de que está comprando o melhor mercado do Brasil. Nós (o Estado) exploramos apenas a questão da distribuição. Mas quem vai comprar espera fazer outros tipos de negócios.
Folha - Quais negócios?
Manfredi - O primeiro é o gás. O gasoduto (Brasil-Bolívia, que deverá estar concluído até início de 99) cruza a nossa área de concessão. O comprador da CPFL vai tentar comprar a concessão para distribuir gás. E já terá uma estrutura comercial para vender o gás.
Nós só temos 3% de geração própria. Quem comprar a empresa também vai investir em geração.
Outra possibilidade de negócio é co-geração. Nossa área de concessão tem os maiores produtores de cana do Brasil, que têm bagaço para queimar e fazer combustível.
A transmissão de dados é outra área a ser explorada. A CPFL tem uma rede de linhas nas quais é possível colocar fibra ótica e trabalhar com transmissão de dados, TV a cabo etc. É vender serviços para as empresas de telecomunicações e operadoras de telefonia celular.
Tudo isso você só pode ter num mercado rico, que é exatamente o caso da área de concessão da CPFL.
Folha - Como o sr. analisa a CPFL em relação a outras empresas de distribuição de energia do país?
Manfredi - É a empresa que tem os melhores índice de qualidade, foi preparada para ser privatizada e está pronta para a competição que haverá no futuro.
O que é o ágio? Normalmente, o preço mínimo é determinado no negócio de distribuição de energia. Por menos daquilo o Estado não vai vender. O ágio depende da concorrência e do potencial de novos negócios. Quanto mais a área de concessão tem potencial de novos negócios, mais oferece quem tem essa visão estratégica.
Folha - O preço mínimo já não deveria levar em conta essas oportunidades de negócios?
Manfredi - Isso é subjetivo. Deixa-se que os interessados avaliem. Quando falamos de novos negócios, estamos vendendo o ovo que está na galinha. A eletricidade é o ovo que já está aí. Cada um estima quantos ovos a galinha pode botar.
Folha - Como a empresa foi preparada para a privatização?
Manfredi - Como o setor estava mudando e o mundo estava mudando, nós fomos ver lá fora como o pessoal fazia e vendemos isso aos empregados. E dissemos: 'Privatize ou não, vocês têm de se adaptar à competição'. E eles toparam. Mas como é que você faz isso? Tem de investir muito em treinamento.
Folha - Quanto vocês investiram?
Manfredi - Investimos R$ 7 milhões, em todos os tipos de treinamentos: de administração, de visão globalizada, sobre qual a tecnologia que se usa para a competição, o que fazer para aumentar a produtividade, informática.
Folha - O que vai acontecer com as tarifas de energia?
Manfredi - Primeiro: quem vai determinar tarifa é o governo federal, que é o poder concedente. Mas para estimular a privatização, o poder concedente permite que por período de cinco anos seja mantida a atual margem de distribuição, que é a diferença entre o preço de compra e o preço de venda da energia. Uma vez por ano eles vão corrigir a tarifa pelo IGP-M.
Folha - E se aumentar o preço da compra de energia?
Manfredi - Automaticamente muda o preço final na data de reajuste. Depois desses cinco anos, haverá um fator para diminuição da margem. Então, não é verdadeiro dizer que a tarifa vai subir.
Folha - E de quanto será esse fator de redução da margem?
Manfredi - O poder concedente vai decidir. Se ele perceber que a rentabilidade da empresa for muito alta, ele pode reduzir a tarifa.
Folha - Ainda existe subsídio na tarifa de energia?
Manfredi - Todo consumidor que consome até 200 kw/h e está no monofásico tem direito ao subsídio. Em todas as privatizações, o governo tirou o subsídio antes. Em São Paulo, não. No futuro, é provável que o governo tire e desconte do reajuste que vai dar para a distribuidora.
Folha - Então esse consumidor pode esperar aumento de tarifa?
Manfredi - Isso não está decidido. Eu não colocaria isso. Já aconteceu em outros lugares, mas aqui não tem nada negociado.
Folha - Qual a expectativa para o leilão após a crise nas Bolsas?
Manfredi - O preço de venda não é determinado pelas Bolsas. O valor mínimo é do negócio. A única coisa que pode afetar é o custo do dinheiro.
Folha - Não é arriscado fazer o leilão em uma clima de apreensão?
Manfredi - Eu não sou especialista nisso e não sou o vendedor (que é a Cesp, detentora do controle da CPFL). O meu problema é preparar o ambiente da empresa para quem comprar encontrar aquela noivinha fogosa e não a noivinha que precisa de seis meses para ser convencida de que ela casou, mudou de marido...
Mas meu sentimento é diferente. Se você não investir em São Paulo, a qualidade dos outros negócios é diferente. Quem perdeu, perdeu. É uma oportunidade única.

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