São Paulo, sábado, 8 de novembro de 1997
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BC volta a vender dólares e consegue segurar preços dentro da minibanda

CARI RODRIGUES
ALEX RIBEIRO

CARI RODRIGUES; ALEX RIBEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Estimativa é de que o Banco Central colocou US$ 1 bilhão; nervosismo com a Ásia aumenta procura

O Banco Central foi obrigado a vender dólares ontem para segurar a cotação da moeda norte-americana pela primeira vez desde o choque nos juros.
Foram ao todo três leilões de venda, em um movimento inverso àquele que o BC vinha adotando desde o dia 31 de outubro.
Após duplicar as taxas básicas de juros, que passaram do patamar de 1,6% para o de 3% ao mês, o BC vinha apenas comprando a moeda.
Para evitar a saída de dólares do país, o governo também foi obrigado a pagar juros mais altos na venda de R$ 1,5 bilhão de títulos com variação cambial.
O BC pagou a taxa média de 14,94% ao ano mais variação do dólar nos papéis com prazo de 24 meses -a maior deste ano para títulos cambiais.
Antes da crise nas Bolsas e nos mercados financeiros de todo o mundo, os juros desses títulos públicos estavam no patamar de 10% ao ano -mais variação cambial.
Com taxas de juros maiores, o governo procura atrair investimentos estrangeiros de curto prazo e também impedir que os dólares que já estão aqui abandonem o país.
O título cambial dá ao investidor uma garantia de que não sofrerá perdas em uma hipotética desvalorização do real. É comprado para se fazer "hedge", ou seja, uma proteção contra riscos de uma desvalorização mais forte do real.
Nervosismo
O mercado de dólares abriu nervoso ontem, com os bancos fazendo grandes compras da moeda norte-americana.
Com o aumento da procura, a cotação do dólar subiu e chegou a bater no teto da minibanda (limite informal para a cotação da moeda norte americana), estabelecida em R$ 1,1085.
Para aumentar a oferta de dólares no mercado -e assim baixar a cotação da moeda norte-americana-, o BC abriu o primeiro leilão de venda às 11h25.
Foi fixado um lote de R$ 10 milhões. Ou seja, essa era a quantidade mínima que os interessados poderiam adquirir. Em dias normais, o lote mínimo é de apenas R$ 500 mil.
Dois outros leilões foram abertos pelo BC, até às 12h30 -um no mercado comercial (que envolve exportações e importações) e outro no flutuante (que opera com dólares para turistas).
Com a venda de dólares promovida pelo BC, a cotação da moeda norte-americana sofreu um recuo e, no meio da tarde, já estava em R$ 1,1080.
A estimativa do mercado é de que nos três leilões de câmbio o BC tenha vendido US$ 1 bilhão.
Coréia
Analistas ouvidos pela Folha descartaram a hipótese de o país estar sofrendo ataque especulativo -ou seja, investidores comprando dólares em uma aposta na desvalorização do real.
Para eles, a grande procura do dólar foi provocada pelo nervosismo do mercado. Os bancos e as empresas estavam preocupados com informações de que a crise no Sudeste Asiático poderia ter um novo centro na Coréia.
Também haveria procura pela moeda devido a instituições financeiras e empresas que estão preferindo liquidar empréstimos tomados no exterior a fazer novas captações para rolar dívidas antigas.

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