São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 1997
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Autor sempre buscou 'apenas' histórias engraçadas

ROGÉRIO DE CAMPOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Robert Crumb é o mais importante quadrinhista underground dos EUA. Mas o texano Gilbert Shelton criou a mais popular série do gênero: "The Fabulous Furry Freak Brothers".
Shelton não pretende ser relevante artisticamente como Art Spielgelman (criador do famoso "Maus"). Não almeja, como Spain Rodrigues (criador de "Trashman"), destruir o sistema. Nem mesmo quer, como Clay Wilson, chocar as sensibilidades aburguesadas.
Pretende apenas fazer histórias engraçadas. Se o personagem aparece fumando maconha em todas as páginas de uma de suas HQs isso não é um libelo contra a repressão ao consumo de drogas. É um jeito que Shelton inventou para contar sua piada.
Ao contrário de praticamente todos os desenhistas de sua turma (esses citados acima, por exemplo), Shelton não é um discípulo do humor agressivo que Harvey Kurtzman colocou na revista "Mad" na década de 50. Shelton é um herdeiro do humor tradicional, de séries como "Pafúncio e Marocas" (em que o velho Pafúncio tentava fumar seus charutos escondido) ou das aventuras do caipira Snuffy Smith e seu alambique ilegal.
Mesmo assim, Shelton fez todo o roteiro do artista underground dos anos 60. Estreou na imprensa universitária, trabalhou em revistas independentes, morou em San Francisco no auge do "power flower", foi amigo de Janis Joplin, montou uma editora, publicou na "High Times" e tem carteira de sócio-fundador da contracultura nos EUA.
Além dos Freak Brothers (de 1967), Shelton criou a série "Wonder Wart Hog" (1961). O gato de Freddy, um dos Freak Brothers, também ganhou sua própria série, que descreve suas aventuras com as baratas e seus percalços para sobreviver em uma casa em que a geladeira está sempre vazia e as maricas cheias.
Com sua visão bem humorada do universo "freak", Shelton chegou a revistas como a "Esquire" e "Playboy". Possivelmente foi mais publicado fora dos EUA que o próprio Crumb.
Mas como humor e sucesso são conceitos negativos para a novíssima geração dos quadrinhos norte-americanos, a influência de Shelton hoje é mínima.

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