São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
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'Só podia namorar no playground'

DA SUCURSAL DO RIO

Cláudio Silva Freire, 29, carrega em sua maleta de médico uma caixa onde guarda fotos, cartas e o resultado do exame médico que comprovou a gravidez de R., 16, sua namorada.
"Fiquei só com isso aqui e fico olhando sem acreditar no que está acontecendo", disse o médico.
Freire conta que no início do namoro foi bem tratado pelos pais de R., R., 41, e M., 36. Os horários eram rígidos -R. tinha que ser deixada em casa às 21h30-, mas Freire podia subir ao apartamento e conversar com os pais dela.
"Depois de um mês, as coisas mudaram e ficou um clima esquisito. Eles não falavam mais comigo, encrencavam com horários, proibiam R. de sair", contou.
Preocupado com a situação, Freire conta que procurou o Conselho Tutelar, órgão criado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, para se orientar. "Sabia que estava me envolvendo com uma menor e queria fazer tudo direito."
Lá foi aconselhado a fazer um pedido formal de namoro e explicar aos pais da namorada quais eram suas intenções. A situação melhorou um pouco, mas complicou de vez há um ano, quando os pais descobriram que R. não era mais virgem.
"O avô e o tio dela foram ao hospital onde eu trabalhava e me ameaçaram. Ela ficou sob vigilância e ficamos dois meses sem nos ver", conta.
Freire voltou ao Conselho Tutelar. R. e seus pais foram procurados e aconselhados a fazer terapia familiar.
Depois de algumas sessões, Freire contou que a psicóloga convenceu a família a aceitar que os dois voltassem a se ver.
Namoro no playground
"Sob uma condição: eu só podia ir lá aos sábados e domingos, com hora marcada, e ficar sentado com ela em um banco no playground do prédio, debaixo da janela da família", disse.
As brigas entre R. e seus pais eram frequentes. A moça, de acordo com o namorado, foi ameaçada de ser mandada para um colégio interno na Suíça. Em meados de maio, R. desapareceu. Depois de uma semana, telefonou contando que havia sido internada em uma clínica psiquiátrica na Barra.
Lá, segundo ela, um enfermeiro teria lhe contado que Freire era casado e tinha uma filha de três anos. "Ele disse que ia entregar a ela minha certidão de casamento. Tive que percorrer todos os cartórios da cidade para tirar certidões negativas, provando que era solteiro", disse.
No dia 31 de outubro, a mãe de R. descobriu que a filha estava grávida, fato que já era de conhecimento do casal havia dois meses.
"R. me ligou dizendo que a mãe sabia de tudo. Depois disso, não tive mais notícias dela", disse.

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