São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
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Conceição Tavares teme risco para eleições do ano que vem

WILSON TOSTA
DA SUCURSAL DO RIO

Dois dos principais economistas do PT -a deputada federal Maria da Conceição Tavares (RJ) e o ex-deputado Aloizio Mercadante- apontaram riscos econômicos e até político-institucionais no pacote anunciado ontem pelo governo.
Para a parlamentar, um eventual fracasso das medidas e um ataque especulativo externo ao real antes das eleições de 98 poderão gerar medidas de exceção, como o adiamento do pleito.
"Vocês não tenham dúvida, estamos caminhando para uma coisa altamente autoritária", afirmou a deputada. "Se este plano não der em nada, e o presidente perder o prestígio, eu temo que no meio do ano que vem sejamos surpreendidos por algumas medidas um pouco diferentes, estilo 'adiamos as eleições', qualquer maluquice."
Conceição disse que tudo dependerá da avaliação que o governo tiver do pleito e também de outras variáveis, como o possível lançamento pelo PMDB de um candidato a presidente e a eventual entrada de Paulo Maluf (PPB) na disputa.
"Se tivermos uma ataque cambial externo antes que termine o mandato do Fernando Henrique, que Deus nos proteja."
Autoritarismo
Mercadante não demonstrou os mesmos temores, mas, assim como Conceição Tavares, criticou o que considerou caráter autoritário do pacote. Para ele, o largo uso de medidas provisórias e outros instrumentos legais que não dependem diretamente de aprovação pelo Congresso esvazia politicamente a instituição.
O economista disse que as medidas vão lançar o país em "recessão profunda" e aumentarão o desemprego. Ele criticou pontos do pacote que, em sua opinião, atingem os mais pobres, como o recadastramento de aposentados a prazos que considerou "selvagens" (muito curtos).
Segundo Mercadante, as medidas anunciadas não atacam as principais fragilidades da economia brasileira, como a supervalorização do real ante o dólar.
"Temos hoje um déficit em transações correntes de US$ 34 bilhões, o dobro do que tínhamos há um ano, que era de US$ 17 bilhões", afirmou. "Isso significa que precisamos tomar lá fora US$ 34 bilhões para os próximos 12 meses."
Mercadante defendeu a transição gradual da âncora cambial presa exclusivamente ao dólar para outra, referenciada em uma "cesta de moedas".
Outro problema, disse o economista, está nas finanças públicas: a dívida interna já passou dos US$ 200 bilhões. Mercadante também advertiu para o que chamou de impacto fiscal do aumento da taxa de juros.

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