São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
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Medidas excluem incentivos reais às exportações

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Não há nenhuma decisão de impacto para fomentar as exportações, no conjunto de medidas de ajuste anunciado pelo governo.
"Não veio o estímulo direto, esperado pelos exportadores, que seria desonerar as exportações da CPMF (Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira)", diz Luiz Fernando Furlan, diretor do Departamento de Exportação da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
"As medidas são úteis, mas acessórias. O arsenal de incentivos para fomentar as exportações está se esgotando", diz Giulio Lattes, vice-presidente da AEB (Associação Brasileira de Comércio Exterior).
Para Michel Alaby, vice-presidente da Adebim (Associação de Empresas Brasileiras para a Integração do Mercosul), as medidas anunciadas deveriam ter sido tomadas há mais tempo, e não tocam no foco da questão: as reformas e o gargalo dos portos.
"Em sã consciência, (as medidas) podem não representar muito esforço de exportação, e não vão dar resultado do dia para a noite."
Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora, especialista em câmbio, acha que as medidas revelam um "oportunismo do momento".
"É um tarifaço forte, para o governo fazer o seu ajuste de caixa. Com o clima emocional causado pela elevação da taxa de juros, o desgaste do governo é menor do que se ele fosse lançado num cenário de calmaria", diz Nehme.
Para Furlan, os exportadores também serão afetados pelos efeitos -no Custo Brasil- de outras medidas, como o aumento do preço dos combustíveis e dos juros.
"Se analisarmos o conjunto das medidas, vemos que o aperto das contas do governo é mais uma promessa a médio prazo; para o contribuinte, há impactos de curtíssimo prazo, como o aumento do IPI, da gasolina e do Imposto de Renda na Fonte. Ou seja, a conta vai ser paga pelo consumidor e pelo contribuinte", diz Furlan.
A lógica das medidas é o espectro da recessão, pois haverá excedentes e o produtor tentará exportar, mesmo com lucratividade menor.
A permissão para produtores de insumos contratarem operações de ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio) é considerada louvável, mas tem limites.
Na prática, é uma operação de capital de giro, com financiamento a juros internacionais (o exportador vai ao banco, com o contrato de exportação, vende dólares e recebe em reais o financiamento para matéria-prima de um produto que será embarcado no futuro).
Como o anúncio não foi claro, prevê-se que o produtor final poderá fazer uma operação casada de financiamento, na qual o fabricante de insumos participa solidário. "A medida é acertada", diz Alaby, porque os fabricantes de insumos são empresas de menor porte.
Prevê-se que o produtor de insumos terá financiamento a juros internacionais, numa operação realizada por intermédio de uma trading ou de uma indústria.
O decreto regulamentando o seguro de crédito à exportação não representa, a rigor, uma novidade. A empresa já está estruturada: a Sociedade Brasileira de Crédito à Exportação, com sede no Rio, gerenciada pelo Banco do Brasil, tendo a Coface (espécie de Eximbank francês) como um dos sócios. "Chega em boa hora", diz Alaby.
Na questão de seguros de exportação, o que surpreendeu mais foi o anúncio da privatização do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil). "Estou perplexo. Não entendo o que se pretende com a privatização do IRB, que é um agente financeiro do Tesouro Nacional para as operações de seguro de crédito à exportação", diz Lattes.
Também não gerou maior impacto o anúncio atribuindo ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) R$ 400 milhões para operar com recursos do Proex (Programa de Financiamento à Exportação).
Giulio Lattes diz que o BNDES tem sido muito ágil. E que a medida pode gerar reação em cadeia, incluindo o Banco do Brasil.
Mais cético, Nehme diz que "o BNDES sempre anuncia grandes números, mas não fica com o risco. No cenário atual, os bancos tendem a ser mais seletivos", diz. O BNDES precisaria assumir o risco do banco repassador, que cobra um "spread" (taxa). Segundo Furlan, "por necessidade de aumentar as exportações, valeria a pena o BNDES correr esse risco".
A manutenção das isenções tributárias para remessas ao exterior, decorrentes de contratos de exportações e captação de recursos externos, foi bem recebida. Geralmente são gastos com comissão, propaganda e publicidade.
Lattes faz ressalvas ao fundo de aval para pequenas e médias empresas. "Se há o seguro de crédito, não vejo necessidade do aval. A não ser que seja garantia perante o organismo financiador. Mas se for em valores altos, dificilmente funcionará", diz.

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