São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
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Clinton desiste de aprovar "fast track"

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Na mais constrangedora derrota parlamentar de seu segundo mandato, o presidente Bill Clinton pediu para que fosse retirado da pauta da Câmara dos Representantes (deputados) até pelo menos o ano que vem o projeto de lei conhecido como "fast track" (via rápida).
O "fast track" dá ao presidente poderes para negociar acordos comerciais que depois não podem ser emendados pelo Congresso.
Clinton resolveu desistir da votação do "fast track" às 2h locais de ontem (5h em Brasília), após ter passado o fim-de-semana ao telefone tentando convencer parlamentares de seu partido, o Democrata, a votarem a favor do projeto.
O presidente da Câmara e principal líder da oposição, Newt Gingrich, conseguiu para Clinton o apoio de 170 dos 227 deputados do Partido Republicano. Mas Clinton não foi capaz de garantir os votos de mais do que 40 dos 207 representantes democratas quando precisava de, no mínimo, 48 deles.
O adiamento da votação provoca embaraços imediatos para Clinton no plano externo. No próximo dia 24, por exemplo, ele se reúne em Vancouver, Canadá, com chefes de governo de países banhados pelo Oceano Pacífico em que se vai discutir comércio, sem a autoridade necessária para negociar.
Além disso, o fracasso de ontem põe em risco o cumprimento do prazo de 2005 para a implementação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Se Clinton não tiver o "fast track" quando a Cúpula das Américas se reunir em Santiago (Chile) em maio, a própria idéia da Alca estará em perigo.
A resistência da Câmara ao "fast track" mostra como é alto o nível de oposição da opinião pública norte-americana ao conceito de globalização da economia. Boa parte do país concorda com os argumentos de sindicalistas de que acordos de livre comércio prejudicam os interesses dos produtos e trabalhadores norte-americanos.
Se o presidente não for capaz de reverter o quadro em janeiro, os três anos finais de seu governo correm o risco de se tornar improdutivos. A fragilidade de sua base de sustentação parlamentar se tornará ostensiva e as iniciativas de sua administração tenderão a perecer.
Também em jogo está a sucessão de Clinton. Seu candidato é o vice-presidente Al Gore, considerado o autor da idéia da Alca e principal defensor no governo do Nafta (Acordo Norte-Americano de Livre Comércio). O principal adversário de Gore na disputa pela candidatura presidencial do Partido Democrata em 2000 é Richard Gephardt, o líder do governo na Câmara, que comandou a oposição ao "fast track" este ano.
Clinton é o primeiro presidente dos EUA a governar sem a autoridade do "fast track" desde Gerald Ford, há 20 anos. A lei que atendeu aos presidentes anteriores caducou em abril de 1994, após o estabelecimento da Organização Mundial do Comércio, em Genebra.
Em junho de 1994 o presidente enviou ao Congresso o projeto para que o "fast track" fosse renovado. Em setembro daquele ano, Clinton retirou o projeto da pauta da Câmara ao perceber que ele não seria aprovado, embora o seu partido ainda fosse majoritário.
O projeto só foi reapresentado em setembro deste ano, após longas negociações entre o presidente e seus líderes no Congresso e inúmeras concessões do Executivo a parlamentares dos dois partidos.

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