São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
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Artista veste galeria com traje de museu

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REDAÇÃO

"Mondrian já virou vestido." Com a frase bem-humorada, o artista Caetano de Almeida exemplifica uma espécie de "fim da história" que ele enxerga, sem amarguras, rondando as artes plásticas contemporâneas.
Sem perspectivas aos lados ou pela frente, Caetano de Almeida encontrou caminho aberto no retrovisor.
Isso não significa que em "Exposição de Quadros", título emblemático da mostra que ele abre hoje na galeria Luisa Strina, ele exiba uma pintura de marcha ré.
Apesar de estruturar sua criação em um diálogo com elementos clássicos da pintura, Almeida tinge suas obras -feitas com o que ele chama de "técnicas nobres" (guache, desenho e pintura)- da ironia do contemporâneo.
Cercado de pontos de interrogação conceituais, o artista encontrou no diálogo com o que ele chama de "mitologia da arte" o esqueleto de sua produção.
Assim, todas as obras que apresenta na galeria Luisa Strina seguem o mesmo processo técnico.
O artista projeta em uma superfície de voile -tecido leve-, ou mesmo em papel ou em uma tela, alguma pintura de seu agrado.
Pode ser uma obra de Nicolas Poussin (1594-1665) ou de Jackson Pollock (1912-56), já que acredita que entre os dois "é como se não tivéssemos saído do lugar".
A partir da projeção, pinta ou desenha a imagem tal como a enxerga, sem preocupação de reproduzi-la com fidelidade, mas também sem abstrair radicalmente.
"Receber sem filtrar" é como ele resume sua postura diante da pintura tradicional. "Pinto como enxergo", diz o artista, que incorpora todas as imperfeições que surgem ao longo da execução de suas obras, como borrões ou traçados irregulares.
Mesmo assim não faltam filtros na sua arte. Um dos mais importantes, e destaque desta exposição, é a montagem.
Acostumadas há 23 anos com o choque do novo, as paredes da galeria Luisa Strina ganharam, com "diagramação" das obras que deixa poucos espaços livres, perfil de museu. Convicto de que a arte não deve andar em vestidos, Caetano de Almeida vestiu a galeria como "templo da arte".

Mostra: Exposição de Quadros - Caetano de Almeida
Vernissage: hoje, às 19h
Quando: segunda a sexta, das 10h às 20h; sábado, das 10h às 14h; até 4 de dezembro
Onde: galeria Luisa Strina (r. Padre João Manuel, 974A, tel. 280-2471)
Preços das obras: de R$ 800 a R$ 7.000

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