São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
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SP recebe Filarmônica de Estrasburgo

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Orquestra Filarmônica de Estrasburgo, que encerra esta semana a temporada internacional do Cultura Artística, chega sob a direção de Theodor Guschlbauer e traz Nelson Freire como solista.
O pianista brasileiro interpretará o "Concerto nº 3" de Bartok e o "Concerto nº 2" de Brahms.
Guschlbauer, 58, é também regente regular da Ópera de Viena.
Em entrevista à Folha, ele disse que na Europa "as fronteiras musicais estão desaparecendo; as fronteiras do espírito sempre prejudicaram a liberdade artística".
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Folha - Por que as orquestras do interior da França estão mais em evidência que as de Paris?
Theodor Guschlbauer - Nos últimos 25 anos, as políticas de descentralização e regionalização trouxeram novos recursos ao interior da França, onde até o início dos anos 70 a música, em bases regulares, praticamente inexistia.
Foram criadas a partir de então orquestras de excelente qualidade em Bordeaux, Toulouse, Lyon, Estrasburgo, Lille, Nantes e outras. Algumas tinham orquestras para o acompanhamento de óperas, mas praticamente nenhuma possuía repertório sinfônico.
Folha - Mas nem Estrasburgo escapava a seu ver dessa aridez?
Guschlbauer - Talvez Estrasburgo fosse um pouco diferente. Há um biculturalismo muito forte, permitido pela proximidade com a Alemanha. Havia uma tradição musical de alto nível. A cidade também tem uma forte vocação européia, pelas instituições da União Européia aqui baseadas.
Folha - Em razão disso, sua orquestra não teria uma sonoridade mais "germanizada"?
Guschlbauer - É sempre um pouco difícil elogiar a orquestra que se dirige.
Folha - Os dois programas que ela traz ao Brasil foram escolhidos com base em que critérios?
Guschlbauer - Há no programa peças de orientação francesa (Dukas, Ravel) e de orientação centro-européia (Dvorak, Brahms). São escolhas que traduzem as possibilidades específicas da vida cultural em Estrasburgo.
Folha - A orquestra já não caminhava nessa direção quando dirigida por Alain Lombard?
Guschlbauer - Meu predecessor efetivamente permitiu grandes saltos. A orquestra com ele produziu excelentes versões das sinfonias de Bruckner e de Mahler, das óperas de Wagner, e não apenas Ravel e Debussy ou Berlioz. É um dos resultados do biculturalismo.
Folha - O sr. é austríaco de nascimento. As grandes orquestras francesas têm hoje como titulares regentes estrangeiros. É porque os franceses, sem a ambição de produzir um bom Mahler ou um bom Beethoven, estavam minguando o padrão técnico de seus conjuntos?
Guschlbauer - Há excelentes maestros franceses. Na Alemanha, cinco grandes orquestras têm maestros franceses como diretores musicais. Isso traduz a vontade dos países europeus de não serem nacionalistas, no mau sentido. Há uma consciência ampliada do fato de sermos europeus. As fronteiras musicais estão desaparecendo. As fronteiras do espírito sempre prejudicaram a liberdade artística.

Concerto: Orquestra Filarmônica de Estrasburgo
Direção: Theodor Guschlbauer Solista: Nelson Freire (piano)
Quando: hoje, amanhã e quinta, às 21h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 256-0223)
Quanto: R$ 70 a R$ 140; estudante, R$ 10 (meia hora antes dos concertos)

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