São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 1997
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Pau na classe média

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - As Bolsas e os títulos brasileiros no exterior abriram ontem em alta. Quem amanheceu em baixa foi a classe média.
Apesar de o secretário-executivo da Fazenda, Pedro Parente, ter dito que se tratava de "um conjunto equilibrado", o pacote do governo foi especialmente duro com o assalariado chegado a "luxos" -como andar de carro, por exemplo.
É ele quem vai sofrer mais com um aumento de 5% na gasolina, o adicional de 10% sobre o IR devido, os US$ 90 de taxa de embarque para o exterior e -mais dia, menos dia- o aumento do IPI sobre a cervejinha nossa de cada dia.
Se for funcionário público, pior ainda. Além de ficar sem aumento pelo quarto ano consecutivo, estará sujeito a perder o próprio emprego. Estão na mira 33 mil dos 55 mil não estáveis.
Também foi para o brejo, pelo menos por ora, o sonho de reeleição dos governadores. FHC bateu com a porta do cofre na cara deles.
Os Estados vinham perdendo em ICMS com a retração causada pelo fantástico aumento dos juros. Não deverão dispor de 75% dos recursos da privatização de suas estatais. Agora, não têm mais fontes de empréstimos.
Os efeitos políticos de um pacote assim tão impopular costumavam vir a galope, mas o governo tenta manter as rédeas com o discurso: as medidas eram absolutamente necessárias para salvar a Pátria de um ataque especulativo externo e garantir a sobrevivência do bem de todos, o real.
De Fernando Henrique Cardoso até o segundo escalão de um ministério qualquer, a burocracia brasiliense jura que o pacote era "imprescindível", como assumiu até o presidente argentino Carlos Menem. Era mesmo, mas ele não perde por esperar a parte que lhe cabe nesse latifúndio...
Como detalhe, o ministro Kandir cometeu uma injustiça com o avestruz, a maior ave do planeta, a mais forte, uma das mais corajosas. E corre até 65 km/h de qualquer inimigo.
Kandir disse que o Brasil não é avestruz. Mas, na prática, pediu ao brasileiro para se virar como avestruz.

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