São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 1997
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Fiscais são acusados por morte de camelô

ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

O ambulante Paulo Nélson Barroso dos Santos, 28, morreu anteontem possivelmente em consequência de espancamento por fiscais da Prefeitura de São Paulo.
Barroso havia levado golpes com canos de ferro e paus na cabeça no dia 11 de outubro. Foi medicado e voltou a trabalhar. Anteontem, foi internado queixando-se de dores de cabeça e morreu por causa ainda desconhecida.
No boletim de ocorrência que registrou após o espancamento, Barroso identificou os agressores como "fiscais da prefeitura" e disse que apanhou porque não quis lhes dar a "caixinha" da semana.
A polícia confirmou que um dos carros usados pelos agressores -cuja placa foi anotada por testemunhas- pertence à Prefeitura de São Paulo. Atualmente, está em uso pela fiscalização da Administração Regional da Sé.
Policiais ferroviários e ambulantes confirmam que os agressores estavam em veículos da prefeitura.
A Secretaria das Administrações Regionais criou uma comissão de averiguação para apurar o caso.
Operação
Paulo Barroso dos Santos tinha uma banca de doces e refrigerantes na calçada da Estação da Luz (região central). Trabalhava ao lado do irmão, José Robério, e morava em uma pensão vizinha à estação.
No dia 11 do mês passado, os camelôs da área foram avisados por "fiscais amigos" que haveria uma operação da fiscalização, segundo uma ambulante que não quis se identificar. Eles foram aconselhados a não montar suas barracas.
Por volta das 10h, pelo menos cinco veículos identificados como da prefeitura -inclusive um caminhão e a Kombi que teve sua chapa anotada- estacionaram ao lado da estação.
Após conversarem com Barroso, alguns dos homens identificados como fiscais começaram a agredi-lo com paus e canos de ferro.
Ele saiu correndo para dentro da estação, gritando por socorro. Na entrada voltada para o parque da Luz, Barroso foi alcançado. Cerca de dez homens passaram a dar golpes com paus e canos de ferro em sua cabeça, tronco e braços. Só pararam quando a Polícia Ferroviária, que atua na estação, se aproximou. Segundo os policiais ferroviários, Barroso estava muito machucado e eles se preocuparam em socorrê-lo, enquanto os homens entravam nos carros da prefeitura e iam embora.
Segundo ambulantes, os envolvidos no espancamento não costumavam atuar na área.
O próprio Barroso foi ao 2º Distrito Policial registrar o boletim de ocorrência por lesão corporal dolosa. Na ocasião, a placa da Kombi da prefeitura foi passada à polícia, que abriu inquérito. O delegado titular do 2º DP, Carmo Aparecido de Camargo, disse ontem que não poderia dar informações sobre o andamento do inquérito porque ele estaria em poder de uma equipe de investigação que não estava na delegacia.
Na manhã de anteontem, Barroso sentiu fortes dores de cabeça, segundo sua mulher, Antônia Lucivânia Alves de Souza, 20. Internado na Beneficência Portuguesa, morreu por volta das 14h. O hospital não divulgou a causa da morte. Ela será apurada pelo Instituto Médico Legal, em 15 dias. O enterro de Barroso deve acontecer na manhã de hoje.

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