São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 1997
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Contribuinte precisará controlar gasto para não ter surpresa em 98

MARCOS CÉZARI

MARCOS CÉZARI; GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Combustíveis, bebidas e taxa de embarque em aeroporto sobem já, mas IR só em janeiro

A classe média precisa se preparar para um aperto no orçamento doméstico a partir de janeiro de 98, caso o pacote fiscal anunciado pelo governo não sofra modificações nas negociações com o Congresso Nacional.
Além do aumento de despesas já neste mês -sobem combustíveis e bebidas, e a taxa de embarque para quem viaja ao exterior-, tudo na esteira do salto dos juros, o consumidor terá menos renda disponível já em janeiro de 98.
O Imposto de Renda devido por pessoas físicas vai aumentar 10%.
Ao mesmo tempo em que o salário líquido vai cair -a não ser uma ou outra categoria que consiga algum reajuste salarial-, as despesas tendem a ser mais altas a partir de janeiro.
Exemplos de três situações (ver quadro abaixo) apontam para quedas entre 0,77% e 2,88% na renda líquida, devido ao aumento do IR na fonte (rendimentos de aluguel e de profissionais liberais tributados pelo carnê-leão também serão mais taxados).
As despesas devem crescer nos itens combustíveis e bebidas. No caso de viagens aéreas ao exterior, a taxa de embarque subiu de US$ 18 para US$ 90.
Quem vem "rolando" dívidas pelo cartão de crédito ou cheque especial também está sendo afetado pela crise. Houve juro que passou de 10% para 15% ao mês.
Mensalidades escolares, embora não estejam diretamente relacionadas ao pacote, já indicavam aumento de 10% entre 97 e 98, contra uma inflação inferior a 5%.
Mesmo os consumidores que entraram em crediário há mais tempo e têm prestações prefixadas para os próximos meses devem ficar atentos. O valor da prestação é fixo, mas a renda disponível para o pagamento deve encolher a partir de 98, sem falar no risco de desemprego, que agora é maior.
Exemplos
Os cálculos para três hipotéticos contribuintes analisados pela Folha mostram que os descontos do imposto serão sempre maiores quanto maiores forem as rendas. Isso não chega a ser novidade, uma vez que o IR é progressivo -paga mais quem ganha mais.
Um contribuinte com ganho mensal bruto de R$ 2.000, com dois dependentes, pagará mais 0,77% de IR já em janeiro. Assim, sua renda cairá R$ 12,09.
Considerando que esse contribuinte não viajará ao exterior, mas tem gastos com cartão de crédito, carro e bebidas (itens que foram afetados pelo pacote),
seus gastos vão subir R$ 38,00. Com os R$ 12,09, serão R$ 50,09. Em 12 meses, R$ 601,08 (valor igual a cinco salários mínimos).
Para um contribuinte com renda de R$ 5.000 (o típico classe média), o aumento do IR será de 2,32%. No dia do pagamento esse contribuinte deixará de embolsar R$ 86,16 (R$ 1.033,92 por ano).
Como tem uma renda maior, esse contribuinte vai viajar uma vez por ano ao exterior. Para tanto, gastará R$ 360 apenas com a taxa de embarque da família (ele, esposa e filhos).
Esse gasto pesará muito na renda do trabalhador no mês da viagem. Afinal, ele gastará cinco vezes mais (de R$ 72 para R$ 360), ou 400% de aumento.
Considerando que ele também pagará a fatura do cartão de crédito com atraso, seu gasto mensal vai aumentar 45,86% no mês da viagem, passando de R$ 822 para 1.199 (mais R$ 377).
Como vai viajar uma vez por ano, nos demais 11 meses ele deixará de pagar a taxa de embarque. Assim, em vez de R$ 377, gastará mais R$ 89 por mês. Somados os valores (11 vezes R$ 89, mais R$ 377, mais R$ 1.033,92), esse contribuinte deixará R$ 2.389,92 por ano para o governo somente com os acréscimos provocados pelo pacote -quase meio salário mensal bruto.
Para um contribuinte com renda de R$ 10 mil, o imposto aumenta 2,88%, ou R$ 211,16 por mês (R$ 2.533,92).
Com ele também vai viajar, no mês da viagem sua despesa crescerá 35,95%, passando de R$ 1.152 para R$ 1.566,20 (mais R$ 414,20). Nos demais 11 meses, o gasto sobe R$ 126,20 (ou R$ 1.388,20).
Para esse contribuinte, o gasto anual a mais será de R$ 4.336,32, equivalente a 43,36% de sua renda mensal bruta.

Colaborou Gabriel J. de Carvalho, da Redação

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