São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 1997
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Bancos restringem as aplicações na poupança após salto nos juros

VANESSA ADACHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos estão restringindo os depósitos em poupança, temendo a migração, para a caderneta, do que está sendo chamado de investidor especulativo.
É o investidor que tem grande volume para aplicar e que normalmente estaria em outra categoria de investimento, mas está sendo atraído pelo excepcional rendimento que a caderneta está pagando em novembro.
Em função da elevação dos juros no último dia de outubro, o rendimento da caderneta saltou de algo em torno de 1,1% para 2,40%.
A Folha apurou que a restrição a valores elevados está sendo praticada por diversos bancos. A maioria nega.
O Citibank não está aceitando aplicações superiores a R$ 10 mil na sua caderneta.
O objetivo, segundo a assessoria de imprensa do banco, é "evitar investidores especulativos".
Com o mesmo objetivo, o Banco Bandeirantes fixou o limite máximo de R$ 100 mil para as aplicações de não-clientes do banco.
Segundo a assessoria do Bandeirantes, todos os clientes estão livres de limites e restrições. Mas os depósitos acima de R$ 100 mil de não-clientes estão sendo analisados caso a caso.
Não há nada de proibido nesse tipo de restrição, mas pode parecer estranho que os bancos não queiram receber depósitos grandes.
Isso está acontecendo porque, por lei, 70% dos recursos da poupança têm de ser destinados para o financiamento imobiliário.
O receio dos bancos é que, a partir dos próximos meses, quando o rendimento da poupança deixará de ser vantajoso, esses investidores saquem seus recursos.
Os 70% são calculados pelos bancos sobre o saldo médio dos últimos seis meses.
A forte captação de novembro tende a distorcer essa média, obrigando os bancos a aumentar a carteira imobiliária.
O resultado é que nos próximos meses a carteira imobiliária seria "inchada" por recursos da poupança que já teriam sido sacados.
Apesar das restrições, a entrada líquida na poupança até seis de novembro era de R$ 766 milhões, bem maior que os R$ 103,8 milhões de igual período de outubro.
Outro inconveniente para os bancos gerado pelo "excesso" de captação na poupança é que a demanda por financiamentos imobiliários está fraca em função do próprio aumento dos juros.
"Não se consegue emprestar na mesma velocidade que o dinheiro entra. E também não conseguiremos recuperar os recursos na mesma velocidade que ele sairá quando começarem os saques", diz o gerente de captação do Banco Real, Fernando Sá.
O Real não está restringindo o valor das aplicações em caderneta. Está apenas monitorando as operações para evitar exageros.
"Temos tido cerca de 30 depósitos por dia acima de R$ 100 mil, quando a média é de R$ 10 mil", diz Sá. O recorde foi uma aplicação de R$ 1,7 milhão.
O Unibanco e o BankBoston estão procurando direcionar o investimento dos clientes para outro tipo de aplicação, quando detectam que o cliente está atrás apenas do rendimento.
"Em depósitos acima de R$ 50 mil, procuramos saber qual a natureza da aplicação. Então, orientamos o cliente a aplicar em outro investimento", diz o diretor do BankBoston, Fábio Nogueira.
A sugestão do setor é a criação do chamado depósito voluntário, que já existiu em outras épocas e está em estudo no Banco Central.

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