São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 1997
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'Carioca não é vagabundo'

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

A Folha ouviu os quatro técnicos cariocas que levaram seus times à segunda fase do Brasileiro-97. Eles falam de suas influências e dos seus estilos de treinamento.
Paulo Autuori, 41, é o mais novo dos treinadores cariocas em destaque na segunda fase.
Ousado, ele diz que pretende quebrar o jejum de cinco anos sem título brasileiro do Flamengo com um esquema à européia: 3-5-2, com três zagueiros, cinco jogadores no meio-campo e dois atacantes.
Nascido na Tijuca (zona norte do Rio), o treinador poderá conquistar o segundo título brasileiro na sua carreira.
O técnico do Vasco, Antônio Lopes, 56, é o mais antigo dos quatro. Nascido no Santo Cristo, centro da cidade, Lopes tenta conquistar o seu primeiro título da competição este ano. "Técnico carioca não é vagabundo", diz.
Criado em São Cristóvão, Gílson Nunes, 51, tem o perfil do típico carioca fora do trabalho -pela sua fala mansa e pelo estilo bonachão.
Mas, em campo, Nunes é autoritário e tem hábito de gritar com os jogadores. A palavra que, para ele, melhor define seus times é equilíbrio.
"Não gosto de falar que o meu time joga em esquema definido numericamente. Tento sempre é desenvolver uma equipe compacta na defesa e no ataque", disse.
Auxiliar de Sebastião Lazaroni na seleção brasileira em 91, Nunes comanda o Juventude, apontado como o azarão do campeonato.
O técnico Wanderley Luxemburgo, do Santos, é o único dos quatro treinadores que prefere evitar a discussão sobre a escola carioca.
Formado como treinador praticamente no Oriente Médio, Luxemburgo dirigiu apenas um time de ponta do futebol carioca -o Flamengo, em 1995.(SR)
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Folha - Em que essa escola carioca difere em relação à anterior?
Paulo Autuori - Acho que apenas os treinadores acompanharam as mudanças no futebol. Um exemplo disso é que Telê Santana, que é uma das minhas referências, também mudou com o passar dos anos.
Ele não jogava com dois cabeças-de-área no início da década de 80 e fez do São Paulo um time vencedor com dois jogadores atuando nessa função.
Antônio Lopes - Na mentalidade. Antes, os treinadores cariocas gostavam de jogar um futebol vistoso e priorizavam apenas a parte técnica. Era uma época de romantismo. Agora, um time que tente manter essas características não chega a lugar nenhum. Atualmente, temos que tentar mesclar a técnica com a marcação. Essa mudança também está acontecendo na cabeça dos jogadores cariocas.
Gílson Nunes - O futebol agora requer muita participação e dinâmica.
Wanderley Luxemburgo - O que difere é a modernidade. O futebol evoluiu.
Nós aprendemos muitos com os treinadores do passado, Zagallo, Tim e Telê Santana.
Folha - Técnico carioca gosta de dar pouco treino?
Autuori - Particularmente, tento no meu trabalho é dar qualidade. Não vejo motivo para dar dois treinos por dia às vésperas de um jogo. Às vezes, expor os jogadores a rotinas pode prejudicar o time.
Lopes - Isso é uma lenda. Nós trabalhamos bastante. Na primeira vez que fui trabalhar no Sul, jornalistas, dirigentes e jogadores ficaram surpresos com o meu ritmo de treinamento. Técnico carioca não é vagabundo.
Nunes - Isso é história. Há mais de 20 anos essa afirmação é mentirosa. Lamento que a imagem ainda tenha ficado. Eu, por exemplo, tento sempre trabalhar duas vezes por dia, quando tenho um intervalo de uma semana.
Luxemburgo - Não quero fazer comparações com técnicos de outros Estados. O meu conceito de futebol é o brasileiro.
Folha - Qual o técnico que mais o influenciou?
Autuori - Foram vários. Posso citar Telê Santana, Tim, Zagallo e Parreira, que, apesar de serem diferentes, me deram uma boa base no início da carreira.
Lopes - Vários. Mas não posso esquecer dos primeiros com os quais trabalhei. Mário Travaglini, Fantoni e Carlos Froner me ajudaram muito. Me espelhei neles para desenvolver o meu trabalho.
Nunes - Como jogador, trabalhei com Evaristo de Macedo, Telê Santana, Tim e Zagallo e tentei tirar dessas pessoas os fundamentos para o meu trabalho.
Luxemburgo - Zagallo.
Folha - Quem é o melhor técnico do Brasil e do exterior?
Autuori - Desculpe, mas não vou entrar nessa discussão.
Lopes - Dois técnicos se destacam. O Zagallo, que é um vencedor, e o Parreira, que trabalha muito bem a parte técnica. No exterior, não admiro nenhum. O europeu não tem valor.
Nunes - O Zagallo. Não escondo que fico triste quando ainda contestam o seu trabalho. No exterior, há bons profissionais, mas não acompanho o trabalho de ninguém.
Luxemburgo - Não quero citar nomes. Mas posso dizer que aqui estão os melhores técnicos e treinadores do mundo.

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