São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 1997
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Elenco de 'Roda Viva' foi agredido em 68

ERIKA SALLUM
DA REDAÇÃO

O ano de 1968 não foi duro apenas para José Vicente e sua "Santidade". Escrita por Chico Buarque e dirigida por José Celso Martinez Corrêa, "Roda Viva" se tornou alvo constante da censura.
No mês de outubro daquele ano, o Serviço de Censura de Diversões Públicas suspendeu a peça em todo o território nacional.
Uma nota oficial do Departamento de Polícia Federal frisava que a montagem procurava "ridicularizar as religiões, o governo e as Forças Armadas".
Em Porto Alegre, o elenco foi vítima de agressões físicas, além de um grupo de pessoas terem ameaçado os atores de linchamento se não abandonassem a cidade.
Na noite de estréia na capital gaúcha, foram distribuídos panfletos que diziam que "Roda Viva" era "atentatória às sagradas tradições da família".
"Tudo isso foi muito dolorido. O fato de 'Santidade' estar sendo encenada agora é a cura desse trauma", disse à Folha José Celso.
Ele acrescentou que a censura deixou profundas marcas no teatro brasileiro, "uma área da cultura que tinha um poder enorme".
"Mas hoje não estamos livres de uma censura escamoteada, escondida, imposta pelos escritórios de marketing, que não subvencionam espetáculos", afirmou.
Chico Buarque teve outra peça sua proibida: "Calabar", escrita junto com Ruy Guerra. Em 73, quando tudo estava pronto para a estréia, a peça foi vetada.
Antes mesmo do golpe de 64, o governo já impedia a montagem de textos teatrais, como é o caso de "Barrela", de Plínio Marcos, interditada em 59 por Juscelino Kubitschek.
A obra prosseguiu censurada nos anos seguintes, sendo liberada, sem cortes, em abril de 80, juntamente com outra peça do dramaturgo, "Abajur Lilás".
"Eu era de briga. Aprendi isso no circo. Quando proibiam uma peça minha, eu transformava o fato num escândalo", disse o autor.
Para ele, José Vicente foi um dos que mais sofreu com a suspensão de seu trabalho, "porque ele era uma pessoa extremamente sensível, tímida".
Nem mesmo o alemão Bertolt Brecht (1898-1856) foi perdoado -sua "Mãe" também não passou pelo crivo da censura.
(ES)

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