São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 1997
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Gabriela Machado faz arte com ausência

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REDAÇÃO

Os desenhos que Gabriela Machado expõe a partir de hoje na Valu Oria Galeria de Arte conseguem apontar com a mesma firmeza para duas direções.
Ao mesmo tempo que dão a impressão de que entram sorrateiramente pelas bordas do papel, sugerem que não poderiam deixar de estar lá, como se já viessem entrelaçados nas tramas do canson.
O resultado das duas forças é que os traços que a artista deixou com nanquim no papel parecem tão importantes para sua obra quanto os brancos que os cercam.
Gabriela Machado segue assim, simbolicamente, aquilo que Michelângelo Buonarroti já sinalizava há quatro séculos em relação à escultura. Fazer arte é retirar, não colocar.
Assim, a diferença entre cada uma de suas "naturezas-mortas" é mínima. Ganham relevo pelo seu conjunto, pelo elemento que é levemente deslocado de um desenho para o outro.
Nessas pequenas diferenças entre cada uma das grandes obras -os desenhos têm, em média, dois metros de altura-, a artista enxerga o adjetivo "serial", o "estudo sistemático" de algumas poucas formas com as quais convive no ateliê.
A artista pendura os objetos que lhe servem como modelos no teto, com fios de cobre.
Se por um lado retira seus "modelos" da linha de horizonte, por outro é ela que se lança nessa perspectiva.
Trabalha em embate físico com seus desenhos, ao modo como fazia Jackson Pollock (1912-1956) -criador da chamada "action painting"-, com o papel deitado no chão e o corpo debruçado sobre o papel.
Outro ramo frondoso de sua árvore genealógica de influências é Giorgio Morandi (1890-1964).
Juntando os dois mananciais, o crítico brinca com o termo "natureza-morta em ação", para se referir ao modo como Gabriela Machado une a feitura e a temática da obra.
Ainda assim, seu trabalho é muito mais Morandi, criador de lirismo que vale "tanto pelo pouco que cantava quanto pelo muito que calava", do que Pollock.

Exposição: Gabriela Machado
Quando: hoje, às 21h; de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 11h às 14h; até 6 de dezembro
Onde: Valu Oria Galeria de Arte (al. Gabriel Monteiro da Silva, 1.403, tel. 011/883-0173)
Preço das obras: de R$ 900 a R$ 3.500

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