São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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Cúpula do PT rebate críticas de Brizola

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A direção do PT reagiu ontem contra as declarações do ex-governador do Rio Leonel Brizola (PDT), para quem estariam faltando "passos concretos" e "mãos firmes" no PT para consolidar uma aliança eleitoral entre os dois partidos.
"Nós é que resolvemos os problemas do PT", disse o presidente nacional da legenda, José Dirceu.
Brizola quer o apoio do PT fluminense ao provável candidato do PDT ao governo estadual, Anthony Garotinho. Em troca, oferece aval a uma postulação presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva.
"Nós temos responsabilidade política, e o governador Brizola sabe disso", afirmou Dirceu. Lula também discordou da avaliação pessimista de Brizola sobre a construção de um palanque único das esquerdas para 98. "Eu estou é mais otimista agora", declarou.
Brizola até agora é o possível aliado mais firme de Lula. Lideranças do PSB, como o governador Miguel Arraes (PE), não querem a candidatura. O PC do B sonha com o lançamento de um nome da ala antigovernista do PMDB.
A indefinição de Lula sobre a candidatura está desorientando petistas e possíveis aliados. Não raro, Lula, pela manhã, diz a um interlocutor que não quer concorrer. À noite, transmite a outro amigo a impressão de que tentará o Palácio do Planalto pela terceira vez.
Ontem, em São Paulo, o vaivém prosseguiu. Lula reafirmou que seu prazo é a convenção nacional extraordinária do partido, nos dias 13 e 14 de dezembro. Declarou que vai tentar convencer o PT a desistir de sua candidatura, mas que se submeterá à vontade dos correligionários e possíveis aliados.
Um pouco mais tarde, confirmou que está sem ânimo para disputar nova eleição em 98. "Acho fundamental ter 100% de vontade, mas, se acontecer o que prevejo, posso ficar 100%", declarou.
A principal condição para uma candidatura tem endereço conhecido: "Sem alianças políticas nos Estados, é impossível, e o caso do Rio é o mais emblemático", afirmou, referindo-se à fatura cobrada por Brizola.
As cúpulas dos partidos de esquerda devem se reunir na próxima quinta-feira, em Recife. Lula defendeu que o candidato do PT ou das esquerdas só seja ungido em 98, mas admitiu que a pressão em sentido contrário vai antecipar o calendário, como quer Dirceu.
O discurso de candidato teve vez ao dizer que descarta a proposta de "união nacional" para enfrentar a crise econômica. "Na hora de comer o bolo, o governo comeu sozinho. Na hora de lavar a louça, quer a união nacional."
Manobra
A pressão sobre Lula vai aumentar no fim-de-semana. O presidente do PT paulista, Antonio Palocci, apresentará a seu diretório uma proposta de resolução a ser encaminhada ao Diretório Nacional para tentar "enquadrar" os petistas fluminenses contrários ao apoio ao brizolismo no Rio.
A proposta de Palocci, que deverá ser aprovada pelo PT paulista, determina que seja expresso que as alianças em São Paulo, Minas, Rio e Rio Grande do Sul sejam submetidas à direção nacional.
Palocci incluiu outros Estados para não parecer que a resolução tem como único alvo o PT do Rio. "A resolução em vigor é genérica, e é necessário que os Estados se submetam claramente ao interesse nacional do partido."
O presidente do PT paulista, que pertence ao grupo de Lula e Dirceu, acrescentou que tenta "dar mais um passo para garantir a aliança nacional".
Setores da atual direção petista pensam até em intervir no diretório fluminense para assegurar a aliança nacional com o PDT. Lula preferiu não assumir a idéia. "A nossa cultura não é de intervir. Vamos fazer uma ação política para que se cumpra a resolução que defende alianças", desconversou.

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