São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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O tamanho do Banespa

CELSO PINTO

Quando o Banespa finalmente publicar seu balanço, assim que o Senado aprovar a renegociação da dívida paulista, surgirá um banco com um patrimônio líquido entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5 bilhões e ativos em torno de R$ 20 bilhões, segundo seu presidente, João Alberto Magro.
O mercado, que calculava o patrimônio em até R$ 4 bilhões, certamente ficará decepcionado. Mesmo assim, o novo Banespa será o sexto maior banco do país, em patrimônio e ativos, e o quarto maior entre os privados, depois do Bradesco, Itaú e Unibanco.
Fará, portanto, diferença. Poderia ser a escada para outro banco privado pular para os primeiros lugares do ranking, ou uma enorme porta de entrada para um banco estrangeiro.
Resta saber como o terremoto financeiro afetará sua privatização. Se o Senado aprovar a renegociação nos próximos dias, como esperado, o Banespa será imediatamente federalizado, uma assembléia escolherá novos conselhos, e a privatização, segundo Magro, seria feita até junho de 98.
O último banco estadual privatizado, o Credireal, foi vendido por pouco mais do que seu valor patrimonial. Antes da confusão, alguns supunham que o Banespa pudesse ser vendido até por duas vezes seu valor patrimonial. A esta altura, isso ficou duvidoso.
Interesse existe. Entre os nacionais, os potenciais interessados devem incluir Bradesco, Itaú e Safra. Entre os estrangeiros que demonstraram algum interesse estão o português Espírito Santo, os britânicos National Westminster e Standard Chartered, o espanhol BBV, e talvez o holandês ABN Amro. O Texas Pacific fez uma proposta de administrar a transição do Banespa, já recusada pelo BC. Talvez faça nova proposta. Com a intervenção do BC no Banespa, em dezembro de 94, o banco deixou de publicar seus balanços. De início, o BC considerava os créditos do governo paulista (US$ 9 bilhões na época), como de liquidação duvidosa, o que transformaria o patrimônio líquido do Banespa em US$ 4 bilhões negativos. Com base nesta presunção, houve arresto de bens de ex-administradores e governadores.
Magro diz que o entendimento, depois do acordo de renegociação, é que o crédito deixará de ser duvidoso. Desaparecerão, portanto, as razões econômicas para as punições aos ex-administradores, restando apenas as irregularidades apuradas em operações de crédito.
Ao finalmente publicar seus balanços, o Banespa deverá, segundo Magro, apresentar prejuízo em 94, 95 e no primeiro semestre de 96 e lucro no segundo semestre de 96 e no primeiro semestre deste ano.
As ações do Banespa deram saltos extraordinários desde o ano passado. No início de novembro do ano passado, a ação PN estava em R$ 2,45. No dia 5 de setembro deste ano, chegou ao pico de R$ 59,49. Ontem, fechou a R$ 32,00, o que equivale a dar um valor de mercado de R$ 1,2 bilhão para o Banespa. A ação, portanto, ainda vale apenas a metade do valor patrimonial do banco.
A dívida de São Paulo para o Banespa era de R$ 18,5 bilhões em março do ano passado. Com a demora na aprovação do acordo pelo Senado, o valor da dívida já chegou a R$ 27 bilhões em outubro. Uma boa parte deste dinheiro não vai sequer dormir nos cofres do Banespa: mais de R$ 11 bilhões irão pagar créditos no interbancário, e outros R$ 3 bilhões irão sanear o fundo de previdência dos funcionários.
Magro diz que vão sobrar uns R$ 7 bilhões líquidos. Um desafio será encontrar aplicação lucrativa e sensata para este dinheiro. Magro diz que parte será aplicada no interbancário, parte deverá ir para créditos corporativos, rurais e para pequenas e médias empresas. O Banespa, diz Magro, transformou-se num banco limpo e conservador: seu nível de inadimplência é inferior à média e suas provisões serão robustas. Sobraram 569 agências, depois de fechadas 43. O número de funcionários caiu 35% desde a intervenção, chegando hoje a 25 mil.
Como o Estado de São Paulo continuará com 15% das ações, terá interesse em garantir a permanência dos depósitos oficiais no Banespa por um bom período depois da privatização -caso contrário, desvalorizaria o banco. Isso, contudo, só será definido no edital de venda.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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