São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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Motta desiste de interpelar Ronivon e Maia no STF

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro das Comunicações, Sérgio Motta, recuou da sua decisão de interpelar judicialmente os ex-deputados acreanos Ronivon Santiago e João Maia, que o acusavam de ser um dos agenciadores da compra de votos a favor da aprovação da emenda que permite a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Motta havia enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal), em maio, pedidos de explicações solicitando que Ronivon e Maia reiterassem ou não as declarações sobre a compra de votos.
A Folha verificou no STF e constatou que o ministro decidiu pedir a extinção desses processos no mês de setembro.
Essa é a única novidade a respeito da compra de votos a favor da aprovação da emenda da reeleição até ontem, seis meses depois da divulgação dos fatos pela Folha, em 13 de maio passado.
Ronivon e Maia, em conversas gravadas, diziam ter recebido R$ 200 mil cada para votar a favor da emenda constitucional da reeleição no dia 28 de janeiro.
O governo federal obteve o apoio de 336 deputados -o mínimo necessário era de 308.
Os compradores dos votos, segundo Ronivon e Maia nas gravações obtidas pela Folha, foram os governadores do Acre, Orleir Cameli, e do Amazonas, Amazonino Mendes, ambos do PFL, partido que com o PSDB compõe a base de sustentação política de FHC.
Por parte do governo federal, os ex-deputados do Acre citaram o ministro Sérgio Motta como um dos operadores da compra de votos de parlamentares.
Nenhuma punição
Até hoje, a única consequência prática do caso foi a renúncia dos dois deputados (Ronivon e Maia).
Com isso, eles mantiveram intactos seus direitos políticos. Se tivessem sido cassados, perderiam a possibilidade de se candidatar novamente a um cargo público durante um determinado período.
Ninguém foi punido. Outros três parlamentares citados estão em processo avançado de absolvição pela Câmara.
Quando a Folha publicou as reportagens sobre a compra de votos, Sérgio Motta era citado por Ronivon e Maia como um dos agenciadores da operação. O ministro negou o envolvimento.
Em 15 de maio, dois dias depois da divulgação do fato, Motta entrou com os pedidos de explicações no STF.
Depoimento
Cerca de um mês depois, em 17 de junho, o ministro depôs na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara a respeito do caso.
Conversou com os deputados na condição de convidado. Não precisou prestar juramento sobre o que declarava.
Na ocasião de seu depoimento à CCJ, Motta dava a entender que desejava investigar as acusações contra si até o fim. O ministro declarou o seguinte:
"Após as apurações da Câmara dos Deputados e o encaminhamento ao Judiciário, se ainda for necessário e restarem algumas das afirmações criminosas, tomarei as providências judiciais cabíveis. (...) Promoverei a interpelação judicial dos parlamentares mencionados para que neguem ou confirmem o que está contido na matéria do jornal Folha de S.Paulo".
Ainda nesse depoimento, o ministro das Comunicações sugeriu a participação do Poder Executivo na apuração da compra de votos, por meio da Polícia Federal, que é subordinada ao ministro da Justiça.
"Eu acho que se deve pedir para (sic) a Polícia Federal entrar nas investigações para detalhar. Estou aberto a participar de todas essas etapas, para depor em qualquer instância", disse Motta.
Mesmo depois da sugestão de Motta, o Poder Executivo não entrou nas investigações.
A Polícia Federal ficou fora do caso. O Ministério da Justiça não se movimentou. A Procuradoria Geral da República, outro órgão que poderia abrir um inquérito para apurar as denúncias -pois o crime é federal, envolvendo parlamentares-, preferiu não entrar nas investigações.

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