São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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Aliança não sai e ladrão mata grávida

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Elisângela Rodrigues Cardoso, 19, grávida de sete meses, foi morta anteontem à noite, às 21h40, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), por dois assaltantes que renderam seu marido, o auxiliar de compras Marcos Cardoso, 23, quando dirigia um Uno cinza.
Segundo o tio de Elisângela, Daniel Altea, 57, o casal foi abordado quando estava indo comprar o berço da criança, que sobreviveu duas horas depois da cesariana feita na mãe, já morta.
O casal foi abordado em um semáforo da avenida Fábio Eduardo Ramos Ezequiel, próxima à favela Naval, na divisa com Diadema. Essa favela ficou conhecida este ano pelo caso das imagens registradas em vídeo de PMs espancando e atirando contra uma pessoa.
Testemunhas disseram que os ladrões aparentavam ser menores de idade. Os assaltantes se sentaram no banco de trás, porque não sabiam dirigir. Eles ordenaram que Cardoso dirigisse.
"Logo em seguida foram pedindo dinheiro e a aliança de Elisângela", contou a tia da moça, Ana Maria Atea.
Segundo ela, como Elisângela estava com dificuldade de tirar a aliança porque o seu dedo estava inchado, devido à gravidez, o assaltante armado disparou contra a nuca da moça.
O disparo teria acontecido na avenida Lions. "Mesmo depois de retirar o anel da Elisângela e de o Marcos ter entregue R$ 400, os assaltantes atiraram novamente, desta vez contra ele. No entanto, o tiro acertou novamente a cabeça da Elisângela", contou Ana Maria.
Revólver falha
Segundo a polícia, Marcos teria reagido após a mulher ter sido baleada. O dinheiro entregue por Cardoso aos ladrões, de acordo com Ana Maria, seria usado para comprar o berço da criança.
"Os assaltantes, inconformados, tentaram disparar outras vezes contra o Marcos, mas o revólver não funcionou. Nesse momento, os ladrões começaram a discutir e a se xingar porque não conseguiam disparar a arma", afirmou Daniel Altea.
Depois da suposta tentativa frustrada de atirar contra o marido de Elisângela, os assaltantes mandaram-no seguir -a moça continuava dentro do carro. Na alça de acesso à São Bernardo, na via Anchieta, os assaltantes mandaram Cardoso parar o carro e fugiram.
Até as 19h de ontem, o 1º Distrito Policial de Santo André, responsável pela apuração do caso, ainda não havia prendido os criminosos.
Depois que os assaltantes deixaram o carro, Cardoso encontrou um posto do Corpo de Bombeiros, onde pediu ajuda. Os bombeiros conduziram sua mulher para o Pronto-Socorro Central de Santo André.
Segundo a família de Rosângela, ela chegou morta ao hospital. Os médicos fizeram uma cesariana para tentar salvar o bebê, um menino. No entanto, a criança sobreviveu apenas duas horas, de acordo com Ana Maria.
O pai da moça, Liseu Altea, não quis dar entrevistas ontem à tarde, durante o velório de sua filha.
O velório de Elisângela, no cemitério Vale do Pinhal, em Mauá, contou com a presença de cerca de 200 pessoas. Amigos e familiares da vítima fizeram fila para olhar Elisângela pela última vez. O seu filho estava a seu lado, no caixão.
O casal, evangélico, frequentava a Congregação Cristã do Brasil.

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