São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fiscais admitem que agrediram camelô

RODRIGO VERGARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Fiscais responsáveis pela fiscalização de vendedores ambulantes na Administração Regional da Sé admitiram ontem que agrediram o camelô Paulo Nélson Barroso dos Santos, morto na última terça-feira em São Paulo.
A agressão ocorreu há mais de um mês, no dia 11 de outubro, na estação da Luz. Mas familiares do camelô dizem que Santos morreu em virtude dos ferimentos causados pelo espancamento. Segundo os parentes, ele teria sido espancado porque negou-se a pagar propina aos fiscais.
A confissão dos funcionários da prefeitura foi feita em conversa informal entre o administrador regional da Sé, João Bento dos Santos, e os 18 fiscais que trabalharam no dia da agressão em uma blitz realizada no local.
Santos disse que os fiscais admitiram ter havido agressão, mas que não quiseram indicar quais funcionários participaram do espancamento.
Os fiscais negaram ainda ao administrador ter cobrado propina do camelô. Segundo Santos, a agressão teria ocorrido depois que o camelô, revoltado porque os fiscais iam apreender suas mercadorias, puxou um facão.
"O pessoal tomou o facão dele. E aí é que está a parte errada da coisa. Se eles parassem aí e tivessem levado o facão para a polícia, para a delegacia, e feito o boletim de ocorrência, acabou o problema. Infelizmente, houve agressão", disse o administrador regional.
Depois da agressão, segundo testemunhas ouvidas pela Folha e de acordo com o boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil, os fiscais teriam fugido em veículos com logotipo da Prefeitura de São Paulo.
Santos não soube dizer se a morte do camelô tem relação com o espancamento. "Isso quem vai ter que dizer é a polícia."
Afastamento
João Bento dos Santos disse ontem que os fiscais serão afastados a partir de hoje, mas não soube dizer se eles estavam atuando ontem. De acordo com funcionários da administração consultados pela reportagem, todos os fiscais trabalhavam normalmente ontem.
"Eles serão afastados. Provavelmente serão transferidos para outras secretarias, e não vão trabalhar mais na fiscalização."
Os funcionários ainda serão ouvidos em um inquérito administrativo instaurado por ordem do prefeito Celso Pitta (PPB) e que tem cinco dias para ficar pronto.
Os nomes dos 18 fiscais que trabalhavam no dia da agressão foram encaminhados também para a Polícia Civil, que investiga o crime.
Se for comprovado que a agressão levou o camelô à morte, os acusados podem ser condenados a uma pena de 4 a 12 anos de prisão.

Texto Anterior: Corte de oxigênio é o maior risco para o feto
Próximo Texto: 18 nomes são divulgados
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.