São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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Escombros de prédio viram "garimpo"

Edifício de alto padrão desabou em outubro

EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Cerca de 50 pessoas, a maioria delas favelados e desempregados, se transformaram em "garimpeiros" dos escombros do edifício Itália, que caiu há quase um mês em São José do Rio Preto (SP).
Desde anteontem, quando começou a remoção das 7.000 toneladas de ferro retorcido e concreto do edifício, eles passam o dia procurando algo de valor no buraco para onde estão sendo levados os escombros, localizado no Jardim Atlântico, a 7 km de distância do prédio.
O prédio, de 17 andares, era de alto padrão. Três apartamentos eram habitados.
Outros, incluindo a cobertura, estavam mobiliados, mas os donos não tinham se mudado.
Desabamento
O edifício Itália desabou no dia 17 de outubro, em São José do Rio Preto (a 451 km a noroeste de São Paulo), dez dias antes de ser inaugurado.
Fazia parte de um condomínio de três edifícios que estavam entre os dez de melhor padrão na cidade, segundo corretores imobiliários.
Os escombros estão sendo removidos. Parte está sendo selecionada para análise, na tentativa de explicar o acidente, e parte está sendo recuperada pelos proprietários dos apartamentos.
Jóias
O que não é aproveitado é levado para o "lixão" dos escombros.
Munidos de picaretas, marretas, martelos, serras, alicates e outras ferramentas, os "garimpeiros" procuram objetos de valor na montanha de entulhos, resultado de cerca de cem viagens de caminhão por dia.
"Falaram que era tudo gente rica. Deve ter muita jóia e até barra de ouro aqui", disse Valter Evangelista do Carmo, 46. "Aqui é tudo desempregado. Qualquer coisa tem valor."
Fátima Marques, 28, moradora da favela Laranjeira, achou uma máquina fotográfica Yashica intacta. "Vou vender para comprar comida", disse.
Ela chegou ao local às 7h. Até as 15h não tinha almoçado. "Se comer, dá preguiça. Quero trabalhar."
Arlete de Campos, 58, levou um garrafão de água para enfrentar o calor de quase 40 graus. Ela levou a filha Andréia e duas netas, de 5 e 4 anos, para ajudar.
Celular
Roberto Rodrigues, funcionário da Secretaria da Habitação, que "fiscaliza" a área, disse que foram encontrados aparelhos celulares, relógios e até carteiras com dinheiro.
O pedreiro João Ferreira Filho, 29, cortava com uma serra ferros para utilizar na construção de sua casa. "Vou usar no barraco. Fica mais forte."
Rose Alves, 25, mãe de três filhos, achou um punhado de fraudas descartáveis.
Guardou para a filha mais nova, de 10 meses. "É só lavar, tirar a poeira e dá para usar", disse.
Sandália
A menina Camila de Souza Silva, 5, conseguiu um par de sandálias coloridas, um de cada pé.
Feliz por não estar descalça, ontem a menina usava o calçado para ajudar a remexer novamente os entulhos, enquanto a mãe, Valdecina França, 27, dava o peito para a filha Carolina, de 11 meses.
A menina Franciele Russo Rodrigues, 7, se contentou em separar alguns pedaços de azulejo e mármore.
"Vou brincar de casinha. Vou fazer uma casa bem bonita para a minha família", disse.

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