São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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"Pelas Ondas do Amor" é simplismo escrachado

CECÍLIA SAYAD
DA REDAÇÃO

Os poucos filmes australianos que chegam ao Brasil revelam alguns traços comuns: personagens a um só tempo simples e histriônicos e uma linguagem kitsch, escrachada e carregada nas cores.
"Pelas Ondas do Amor", que estréia hoje, não se diferencia muito de seus conterrâneos "Priscilla, a Rainha do Deserto" e "O Casamento de Muriel" no que diz respeito a essas características.
O filme de Shirley Barrett, cujo título original é "Love Serenade", recebeu em 96 o Camera D'Or de Cannes, prêmio para diretores iniciantes dado pelo festival francês. Não dá para entender.
"Pelas Ondas" é, basicamente, um filme sobre as diferentes visões que se pode ter do amor.
A primeira é determinada pelo sexo -homens querem o amor livre, sem compromisso e com várias parceiras. Pelo menos, esse é o desejo do locutor de rádio Ken Sherry, um conquistador com ar blasé que se muda para a pequena cidade de Sunray, na Austrália.
Mulheres querem constância, casamento e fidelidade. Estamos falando das irmãs Vicki-Ann, uma cabeleireira que é fã de Sherry e doida para arrumar um marido, e a caçula Dimity, obediente e "esquisita". Resultado: as duas se apaixonam pelo locutor, que se muda para a casa vizinha.
A outra diferença é determinada, sempre segundo o filme, pela localidade e status social. Sherry, que vem de uma "cidade grande" e tem certo prestígio, é mais moderno, o que, na visão simplista que o filme apresenta, significa desapegado. As irmãs, provincianas e humildes, nem bem dão um beijo e já querem casar.
A narrativa do filme é permeada por canções executadas pelo locutor em sua rádio. Em "Pelas Ondas", a música, novamente como em "Priscilla" e "O Casamento", tem um papel interessante.
A trilha é composta por canções que foram sucesso e têm, para os personagens, o mesmo papel que têm para o público: refletem sentimentos e evocam lembranças, sem terem sido feitas especialmente para eles. Só que, em "Pelas Ondas", ao invés de Abba (executado à exaustão nos outros filmes), há Dionne Warwick e Barry White, para citar somente dois exemplos.
No entanto, à exceção de Dimity, interpretada com competência por Miranda Otto, e que chega a surpreender e apresentar nuances, os personagens são por demais rasos, bem como a visão da diretora sobre o assunto.
É claro que a simplicidade (ou simplismo?) e o estereótipo são uma opção de Shirley Barrett e de uma estética que parece se firmar. Resta ao público optar também.

Filme: Pelas Ondas do Amor
Direção: Shirley Barrett
Com: Miranda Otto, Rebecca Frith, George Shevtsov
Produção: Austrália, 1996
Quando: a partir de hoje, nos cines Bristol e Lumière

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