São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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ELTON JOHN

SYLVIA PATTERSON
DA "IFA"

Tudo estava indo muito bem para Elton John, até que a morte violenta e inesperada de duas pessoas muito próximas conturbaram o ambiente de sossego que ele tinha decretado havia sete anos, quando começou uma dieta e tirou da sua vida o excesso de drogas e álcool.
Primeiro houve a morte do estilista Gianni Versace, assassinado com dois tiros diante de sua mansão, em Miami. Depois, o acidente de lady Di, em Paris. Dois funerais, muitas lágrimas e tristeza em apenas dois meses. Muito drama para uma pessoa tão sensível como Elton John.
Para ele, no entanto, a vida continua. Acaba de completar 50 anos e, enquanto as lojas de discos esgotam os 8 milhões de cópias lançadas no mercado do single "Candle in the Wind" -música composta originalmente para Marilyn Monroe que ele adaptou e cantou em homenagem à princesa de Gales durante o funeral na abadia de Westminster-, o músico pop espera o lançamento de seu novo álbum, "The Big Picture", e prepara uma turnê pelos EUA.
*
Pergunta - Como você está se sentindo?
Elton John - (suspira fundo antes de responder) Estou bem, apesar de tudo. Quando morreu Gianni, não só precisei superar a morte de um grande amigo como fui obrigado a suportar coisas que me deixam profundamente indignado. O jornal "The Independent" fez um obituário escrito por uma mulher desprezível que tratou Gianni de "oportunista com talento", e isso era só o começo.
À medida que o artigo avançava, as coisas iam ficando cada vez piores. Dizia que ele tinha sido fascista -isso é uma mentira deslavada. Sei que nem todo mundo gostava das roupas que ele fazia, mas disso a tachá-lo de fascista é um ataque pessoal maldoso.
Pergunta - Quer dizer alguma coisa sobre Diana?
John - Ela era uma pessoa muito especial. Tinha a habilidade de derrubar qualquer obstáculo, qualquer sistema. Possuía um dom que fazia com que as pessoas ficassem à vontade ao seu lado. Era uma princesa, mas podia ser a vizinha da casa do lado.
Pergunta - Como vocês se conheceram?
John - Foi em uma festa, três meses antes de ela se casar com o príncipe Charles. Dançamos e depois ela me enviou uma carta. Foi assim que começou a nossa amizade.
Pergunta - A nova versão de "Candle in the Wind" foi idéia sua?
John - Não, a família Spencer me pediu para cantar essa música no funeral, e eu mudei algumas estrofes. Foi minha homenagem pessoal a ela.
Pergunta - Ficou muito abalado com essas mortes?
John - Foi uma dor terrível. Ultimamente estou atravessando uma fase excelente em termos pessoais. Tenho a sensação de estar sóbrio e limpo.
Fiz um trabalho intenso comigo mesmo e, pela primeira vez, há paz e equilíbrio espiritual na minha vida. Como artista, nunca soube realmente me comportar fora do palco. Acredito que muitos artistas tenham o mesmo problema.
Ter uma vida privada e uma vida pública é algo muito difícil de equilibrar. Acredito que agora as coisas estão mais sob controle. Devo reconhecer que foi difícil, uma tarefa árdua.
Pergunta - Faz 30 anos que Elton John abandonou seu verdadeiro nome, Reg Dwight...
John - Atualmente a única pessoa que não me chama de Elton é Eric Clapton, que ainda me chama de Reg. Quando alguém me chama de Reg, fico nervoso. Como alguém pode ter a idéia de dar o nome de Reginald a um bebê?
Pergunta - Por que trocou de nome?
John - O novo nome me deu outra aparência, mas não mudou a pessoa que existe no meu interior. Devido a minha personalidade, eu me apego muito a tudo e sempre tentei modificar as coisas na minha vida, esperando um resultado diferente.
Mudei de casa, mudei de companheiro. Mas sempre sem enfrentar verdadeiramente o problema principal. Nestes últimos anos, tentei me livrar de qualquer desonestidade. Tem tudo a ver com ter ficado mais aberto.
Na verdade, não preciso carregar nenhum tipo de bagagem, a minha vida é um livro aberto. Já pedi desculpas a todas as pessoas que magoei quando me drogava. Foram 16 anos de droga, deixando o vício e voltando a ele.
Pergunta - Está arrependido de ter sido viciado em drogas?
John - A cocaína é uma droga que realmente invade sua psique, uma droga muito sombria e sinistra. Mas acho que todos devem passar por isso se é o que querem. A droga me proporcionou bons momentos também, nem tudo foi sombrio, mas, quando uma pessoa usa tanto quanto eu usava, acaba sendo afetada.
No começo da década de 80, as coisas começaram a ficar complicadas, e não havia maneira de tomar mais droga do que eu tomava. Mas não sinto falta dela.
Isso é uma coisa que se pode fazer quando se tem 25 ou 35 anos, mas aos 40 já fica difícil e, se a pessoa continua até os 50, acaba se tornando um imbecil.
Quando comecei a me drogar, pensei: "Isso é fantástico, consigo falar, consigo me abrir". É claro que todos os que conseguem falar graças à cocaína dizem um montão de barbaridades. Fiquei 16 anos dizendo barbaridades e, no fim, não conseguia mais falar, mas continuava tomando a droga. A droga só era boa para o sexo.
Pergunta - Como conseguiu se livrar do vício?
John - Foi uma época muito infeliz. No fim, não sentia mais prazer. Não sorria. A droga estava me tornando tão fechado como eu era quando comecei a consumi-la. Estou orgulhoso de ter podido enfrentar essa situação e de ter dito as palavra mágicas: "Preciso de ajuda". Demorei 16 anos para conseguir pronunciá-las.
O que salvou minha vida foi o fato de ter feito as minhas apresentações e de ter gravado os meus discos. Não ficava sentado em casa me drogando sem fazer mais nada. Se tivesse feito isso, não estaria aqui, já teria morrido. O que realmente me salvou foi a música.
Pergunta - Você se acha culpado de ter considerado os anos 70 uma década sem gosto?
John - Acho que os 70 tiveram muito gosto. A década de 80 que foi sem sal e sem açúcar. Mas a falta de gosto nunca me preocupou.
Pergunta - Quais são as coisas que o atraem atualmente?
John - As exposições de porcelana, a fotografia, o tênis, a jardinagem... coisas sadias. Minha mãe dizia: "Seria muito melhor você gastar seu dinheiro em cimento e tijolos que com o seu nariz". Ela estava certa.
Seria necessário muito tempo para ler a lista dos sucessos que Elton John conseguiu na sua vida: mais de 40 discos gravados, a Elton John Aids Foundation, Membro Honorário da Royal Academy of Music da mesma forma que o foram Mendelssohn, Liszt e Richard Strauss, comendador do Império Britânico, título que lhe foi concedido em 1995 pela rainha Elizabeth...
Pergunta - Nada mal para um drogado, homossexual, baixinho e gordinho chamado Reg, não é?
John - É, mas ainda quero fazer muitas coisas. Recomendo a todos que tratem de ser gordinhos, baixinhos e drogados. Mas é isso aí. Consegui tudo isso tocando piano.
Quando recebi a indicação da Royal Academy, disse aos alunos: "Estão vendo o que acontece aos que não praticam o suficiente?" Não sei se fui bem entendido. Mas preciso ir embora, estou esperando uma ligação de Miami.
Pergunta - Uma última pergunta. Que frase gostaria de colocar no seu túmulo?
John - "Não estou em pé".

Tradução: Maria Carbajal

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