São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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O poeta das caricaturas

ROGÉRIO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois que a separação dos Beatles selou o fim de uma era de sonhos, a década que se iniciava prometia cansar pelos exageros.
Se, no final dos anos 60, o momento era de paz e amor, nos anos 70 quem mandou foi a extravagância. Ela estava em tudo -nos protestos de John Lennon ou nas cobras de Alice Cooper.
Cantar ou compor já não bastavam para consagrar um artista. E um jovem inglês soube como ninguém exacerbar o sentimento da da época. Com a grande ajuda do letrista Bernie Taupin, Elton John aliou poesia e caricaturas, numa fórmula que fez dele um monarca.
A belíssima "Skyline Pigeon" deu a largada. Estava lá o rapaz, com sua afinada voz, tocando um piano tranquilo e falando de vôos em direção a terras distantes.
Bonito, mas ainda não era perfeito. E Elton John aliou à sua música um guarda-roupa milionário e uma coleção de óculos ao mesmo tempo invejável e inútil.
Já não era simplesmente um rapaz ao piano, mas uma verdadeira estrela, com asas nas costas, perucas, lantejoulas na roupa e saltos desproporcionais nos pés.
Exagero? Nem tanto, se comparado a uma banda de rock da época que, com o nome de "beijo", abusava dos fogos de artifício e das luzes, mas não exibia os rostos de seus quatro integrantes.
Em 1973, John e Taupin entraram na estrada amarela como se estivessem realmente pisando em ouro. O álbum "Goodbye Yellow Brick Road", com "Bennie and the Jets" e "Roy Rogers", era tudo que um tempo de Carpenters e cia. poderia esperar: cafona, mas, queiram ou não, magnífico.
Não foi à toa que Elton John recorreu a esse disco para encontrar "Candle in the Wind" e transformá-la, às pressas, em uma homenagem à princesa Diana.
Faltava ainda o cinema, e o diretor Ken Russel lhe garantiu uma cena antológica como o "mago do fliperama", em "Tommy" (1975).
A década acabou, e o já maduro pianista viu-se em vários dilemas -profissionais e sexuais. O luxo foi embora em um leilão, em que foram vendidos os óculos, as roupas e até mesmo as botas vermelhas do "mago do fliperama".
Ontem era a grande estrela de plumas. Hoje, não chega a ser muito mais que um cantor de cerimônias, um compositor para leões de desenho infantil.
Mas a imagem do inesquecível príncipe brega permanece. Assim como "Your Song", "Song for Guy" e outras inúmeras belas canções. Nos tempos da extravagância, Elton John beirou o ridículo, mas teve, merecidamente, o mundo da música pop a seus pés.

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