São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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Associação constrói seu espaço com terra

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O espaço criado pela Associação Brasileira dos Construtores com Terra (ABCTerra) na 3ª Bienal Internacional de Arquitetura, no parque Ibirapuera, é diferente de seus vizinhos.
A primeira diferença aparece já na maneira de apresentar seu produto. Em vez de montar painéis fotográficos e maquetes, como acontece na grande maioria das mostras na 3ª BIA, a ABCTerra literalmente construiu seu estande com as técnicas que pesquisa e divulga.
Outra diferença é conceitual, já que essas técnicas passam longe do concreto armado e das ligas de metal usadas nas construções contemporâneas. A ABCTerra (tel. 011/887-5692, e-mail abcterra@arquitetura.com.br) propõe a recuperação de técnicas como a taipa de pilão, o pau-a-pique, a terra-palha, o adobe (tijolo de barro feito a mão) e o BTC (bloco de terra comprimido).
"Mais que a retomada de técnicas primitivas, a arquitetura com terra provoca uma maior conscientização das partes envolvidas na construção. É preciso retomar essas técnicas não com uma visão saudosista, mas como uma alternativa para o futuro, já que se trata de uma arquitetura sustentável", disse o arquiteto Paulo Montoro, presidente da ABCTerra.
São técnicas, porém, envolvidas em preconceitos. O pau-a-pique, por exemplo, é comumente associado à miséria e à falta de higiene. Sua durabilidade, assim como a da taipa de pilão, também é frequentemente questionada.
"A construção com taipa pode durar séculos. Há três gerações, toda São Paulo era de terra", disse Montoro.
Mas para que dure, é preciso ter cuidados básicos e indispensáveis. Uma construção em pau-a-pique ou taipa de pilão deve ter fundações acima do piso e telhado largo para evitar contato com a umidade do solo e a rápida deterioração das paredes. Também são vetadas construções em baixadas (sujeitas a inundações) e aterros, que podem ceder e comprometer a estrutura da construção.
Essas e outras indicações são básicas, mas as técnicas têm sido aprimoradas pela ABCTerra, cujo papel é também desenvolver normas e regras para essas técnicas construtivas.
"Ainda é preciso muita pesquisa e uma normatização, para que não comecem a construir sem os cuidados básicos e acabem desacreditando essas técnicas pelo seu mau uso", disse Montoro.
A construção com terra não é privilégio de países do Terceiro Mundo, como o Brasil, ou países islâmicos na África, como Iêmen e Marrocos, onde cidades inteiras foram construídas apenas em terra e já duram milhares de anos. Um dos grandes pontos turísticos do Marrocos, por exemplo, é o grande casbá de Ouerzazate, próximo a Marrakech, todo em adobe e terra.
Na França, a associação CRATerre (Centre de Recherche et Application de Terre), ligada à Escola de Arquitetura de Grenoble desenvolve pesquisas na área desde os anos 70.
O arquiteto californiano David Easton, fundador da associação Rammed Earth Works, em Napa Valley, também desenvolve novas tecnologias para a aplicação dessas técnicas. Algumas delas, como o sistema de presilhas e compensados reutilizáveis para a taipa de pilão, estão sendo utilizadas no Brasil pela ABCTerra.

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