São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 1997
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Bagdá expulsa americanos e desafia EUA

ONU cancela inspeções

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A Organização das Nações Unidas resolveu retirar do Iraque todos os integrantes da comissão que inspeciona o desmantelamento das armas de destruição em massa naquele país depois de o governo de Saddam Hussein ter ordenado a expulsão de todos os membros norte-americanos da equipe.
O presidente dos EUA, Bill Clinton, classificou a decisão de expulsar os norte-americanos "claramente inaceitável" e "um desafio à comunidade internacional".
Clinton passou a manhã com seus assessores de segurança nacional, revendo as opções que tem para responder ao Iraque. "Eu pretendo prosseguir nesse assunto de forma muito determinada."
Os seis norte-americanos da comissão que ainda estavam no Iraque deixaram o país pouco antes da meia-noite (horário de Bagdá). Os demais integrantes da comissão vão sair do Iraque hoje. O governo iraquiano recusou pedido da ONU para que os norte-americanos partissem hoje com seus colegas.
O chefe da comissão, Richard Butler, disse que "cada dia que passa traz consequências piores" para o controle que a ONU tem do destino dado pelo Iraque a suas armas de destruição em massa.
A comissão foi instituída pelo cessar-fogo da Guerra do Golfo, firmado em 1991. Uma das condições para o levantamento do embargo econômico imposto ao Iraque em 1990 pela ONU é o desmanche de todas as suas armas de destruição em massa. O Iraque alega já ter cumprido a exigência.
O presidente Clinton disse ontem que a continuidade do trabalho da comissão de inspeção é crucial. Segundo ele, foram destruídas mais armas químicas iraquianas após o cessar-fogo do que durante a Guerra do Golfo.
"Nós queremos eliminar a perspectiva de armas químicas da face da Terra", afirmou.
A atual crise entre Iraque e ONU começou em 29 de outubro passado, quando o governo de Saddam Hussein impediu pela primeira vez a participação de norte-americanos nos trabalhos da comissão.
O Iraque alega que os EUA estão super-representados na comissão e manipulam seus resultados com o objetivo de manter por tempo indeterminado as sanções econômicas contra o país.
O vice-premiê iraquiano, Tareq Aziz, que está em Nova York, alega que, se a ONU é uma entidade internacional, não é necessária a presença de cidadãos de um certo país para a comissão trabalhar.
A ONU também determinou que os vôos dos aviões norte-americanos U-2 de monitoração dos movimentos militares iraquianos sejam retomados na semana que vem.
O Iraque tem ameaçado abater os U-2 que estiverem em seu espaço aéreo. Os EUA já disseram que, se isso ocorrer, será considerado ato de agressão que terá resposta.
O embaixador dos EUA junto à ONU, Bill Richardson, elevou ontem o tom retórico de suas ameaças: "(a expulsão dos norte-americanos) é um ataque ao mundo", afirmou ele, repetindo que a opção de um ataque militar contra o Iraque ainda está sendo estudada.
Rússia, França e China, três dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU reafirmaram que se opõem a qualquer ação militar contra o Iraque.
Mas algumas autoridades norte-americanas, como o secretário da Defesa, William Cohen, têm dito que os EUA têm poder, concedida pelo acordo de cessar-fogo de 91, para ataques unilaterais a alvos militares iraquianos específicos.
Cohen adiou viagem que deveria ter feito esta semana à Ásia para poder ajudar o presidente Clinton a tomar alguma decisão de emergência na crise com o Iraque.
Aziz afirmou ontem que "1997 não é 1991" e que os países árabes não aceitarão, como no início da década, se aliar aos EUA para atacar o Iraque. Além disso, disse Aziz, "vários países importantes na ONU se opõem a uma agressão contra o Iraque".

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