São Paulo, sábado, 15 de novembro de 1997
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Polícia investiga emissão de notas falsas

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal em São Paulo descobriu que a secretária Sônia Mariza Branco é o elo entre o Grupo Monte Cristo, acusado de emitir notas fiscais falsas, e a empresa Melo Perez Terraplanagem, que prestou serviços para uma empresa do ex-prefeito Paulo Maluf.
A assessoria de Maluf nega qualquer relação do ex-prefeito com o Grupo Monte Cristo (leia ao lado).
A Delegacia de Combate ao Crime Organizado e Inquéritos Especiais da PF, que investiga o caso, descobriu que Sônia é a secretária de Adir Assad, um dos sócios da Monte Cristo. Na Junta Comercial de São Paulo, Sônia aparece como sócia majoritária da Melo Perez.
Sônia ainda é irmã de Sandra Maria Branco Malago, que é a secretária do outro sócio do Monte Cristo, Samir Assad, irmão de Adir. Em seu depoimento à PF, Sandra confirmou que a irmã é funcionária da Monte Cristo.
A descoberta da PF contradiz a argumentação da assessoria de Maluf. Quando as notas emitidas para uma de suas empresas, a Maritrad, foram descobertas pela PF, a assessoria do ex-prefeito afirmou que não havia ligações entre a Melo Perez e o Monte Cristo.
Segundo a assessoria, a Melo Perez apenas alugaria uma sala na casa onde funciona o grupo e, por isso, teriam o mesmo endereço.
Outra evidência descoberta pela PF de que, na realidade, a Melo Perez pode fazer parte do Grupo Monte Cristo é que o engenheiro responsável pela empresa é justamente Adir Assad, sócio do grupo.
Na segunda-feira, a secretária Sônia deverá depor na PF. Ela será questionada sobre como conseguiu R$ 450 mil para comprar 95% das cotas da Melo Perez.
As notas emitidas pela Melo Perez para a Maritrad, de Maluf, somam R$ 1.170,00. Seriam referentes a retirada de entulho.
Investigação
A investigação da PF no Monte Cristo começou há cerca de dois meses, quando foi descoberto que as empresas Somartec e Montreal, que pertencem ao grupo, haviam negociado com títulos públicos de São Paulo, emitidos para o pagamento de precatórios judiciais.
A partir da Somartec, a PF chegou à gráfica Izar, que fica na Vila Mariana (zona sul) e que produzia notas fiscais falsificadas para o Monte Cristo.
Entre as notas fiscais, foram encontradas algumas emitidas para grandes empreiteiras no valor de milhões de reais.
Dois ex-contadores do Monte Cristo afirmaram em depoimento à PF que a empresa só trabalhava com a emissão de notas frias.
A PF e uma equipe da Superintendência da Receita Federal em São Paulo agora analisam todas as notas fiscais apreendidas na sede do Monte Cristo.
Entre as notas que estão sendo investigadas, está um lote emitido para o Banco Sofisa. Ontem, André Jasseram, diretor do banco, afirmou que a instituição manteve um contrato com o Monte Cristo para patrocinar o piloto Affonso Giaffone. "Não temos informações sobre notas frias emitidas em nome do nosso banco", disse.
A PF suspeita de que o Grupo Monte Cristo servia para "esquentar" dinheiro para instituições financeiras e empreiteiras.
Parte desse dinheiro, segundo a PF, pode ter sido usada em campanhas eleitorais.
Os policiais que investigam o caso enxergam muitas semelhanças entre o esquema Monte Cristo e as operações feitas pela Paubrasil nas campanhas eleitorais do ex-prefeito Paulo Maluf em 1990 e 92.
A Paubrasil emitia notas falsas, referentes a serviços que não existiram, para que grandes empresas pudessem justificar o pagamento de gastos que, na verdade, iam para a campanha eleitoral.

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